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Uma Visão para o Mercado de Trabalho

Atualizado: 6 de abr. de 2024


Ambição. Um conceito construído sobre a ideia de uma trajetória linear e ascendente na carreira profissional.

Considero esta definição insuficiente, sabendo que o mundo, atualmente, valoriza cada vez mais a flexibilidade, a inovação e a contribuição feita em inúmeros aspetos no âmbito profissional. Isto é ainda mais evidente quando consideramos a inserção e a ascensão das mulheres no mercado de trabalho, uma transformação que desafia diretamente, as muito antigas e totalmente ultrapassadas estruturas convencionais de poder e de progresso profissional.

 

A dualidade de papéis desempenhada pelas mulheres, que frequentemente conciliam as exigências profissionais com as responsabilidades familiares, cria a necessidade de uma reavaliação do significado do conceito de ambição. A noção de que a ambição se manifesta unicamente através da obtenção de posições de liderança ou do acúmulo de sucessos tangíveis necessita de uma atualização, dando lugar a uma compreensão que abrace a realização pessoal, o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, e a capacidade de impactar de forma positiva a sociedade e o ambiente de trabalho. Esta atualização da definição de ambição é, portanto, um reflexo das novas necessidades de uma força de trabalho cada vez mais diversificada e de uma sociedade que valoriza de igual forma a igualdade, a inclusão e a sustentabilidade. Reconhecer que os caminhos para o sucesso são múltiplos e variados oferece uma excelente oportunidade para as organizações repensarem as suas estruturas, as políticas e as práticas, de forma a proporcionarem um ambiente que valorize e promova uma maior gama de trajetórias profissionais e de formas de contribuição.

 


Valorização da Diversidade de Percursos


A valorização da diversidade de percursos profissionais é um aspecto fundamental a este novo modelo de ambição.

Cada trajetória é única e reflete uma combinação singular de aspirações, circunstâncias e de oportunidades. Reconhecer este facto significa compreender que a progressão na carreira pode ser horizontal ou vertical, valorizando a especialização e a profundidade de conhecimento na mesma medida que a liderança e a gestão.

 


Promoção da Flexibilidade


Promover a flexibilidade no ambiente de trabalho é um aspecto adicional, essencial a este novo modelo. A capacidade para adaptar horários, locais de trabalho e trajetórias profissionais às necessidades individuais, é essencial para a inclusão de talentos com diferentes responsabilidades e aspirações. Políticas como o trabalho remoto, horários flexíveis e as licenças parentais equitativas são exemplos em como as organizações podem apoiar a ambição de todos os seus membros, facilitando o equilíbrio saudável entre vida profissional e a pessoal.

 


Reconhecimento e Apoio das Contribuições


Reconhecer e apoiar a amplitude das contribuições é igualmente essencial. As organizações devem cultivar um ambiente onde a inovação, a mentoria, o compromisso com a cultura organizacional e a liderança em projetos transversais sejam tão valorizados como as promoções tradicionais. Este reconhecimento valida as diferentes formas de ambição e sucesso e incentiva a uma colaboração mais profunda e significativa entre todos os membros da equipa.

 


Promoção de um Ambiente de Trabalho Inclusivo


Criar um ambiente de trabalho inclusivo é um aspeto indispensável para a existência deste novo modelo de ambição. Criar espaços que apoiam ativamente a igualdade de oportunidades, o reconhecimento justo e o combate ao viés inconsciente é fundamental. Para isto, são necessárias políticas formais de inclusão e diversidade e a promoção de uma cultura organizacional que valorize e celebre as diferenças individuais como sendo fontes de força e inovação.

 


Incitar à Inovação


Um dos impactos mais significativos do novo modelo de ambição nas organizações é a inovação. A diversidade de perspectivas e de experiências estimula a criatividade e a criação de ideias, elementos verdadeiramente essenciais para a inovação. Quando as pessoas sentem que as suas diferentes experiências profissionais e as suas contribuições são valorizadas, elas sentem-se motivadas a partilhar as suas ideias únicas e a colaborar em projetos inovadores. Este ambiente inclusivo acelera o desenvolvimento de novos produtos, serviços e soluções, e propicia a criação de abordagens originais para solucionar problemas complexos.

 


Ambientes de Trabalho Dinâmicos


Implementar um modelo de ambição inclusivo, contribui para a formação de ambientes de trabalho dinâmicos. A flexibilidade nas trajetórias de carreira e o reconhecimento das contribuições realizadas, encorajam a uma cultura organizacional vibrante, onde a mudança e a adaptação são vistas como oportunidades, não como ameaças. Esta dinâmica estimula uma mentalidade de crescimento entre os funcionários, promovendo a aprendizagem contínua e o desenvolvimento pessoal e profissional. Como natural consequência, as organizações tornam-se ainda mais ágeis e melhor preparadas para responder de forma eficaz às mudanças do mercado e aos desejos, expectativas e exigências dos consumidores.

 


Atração e Retenção de Talentos


Adotar um modelo de ambição inclusivo é também um aspecto estratégico para a atração e para a retenção de talentos. As organizações que demonstram um compromisso autêntico com a diversidade, a igualdade e a inclusão são muito atraentes para uma força de trabalho que é cada vez mais diversificada e consciente dos valores. Ao promover um ambiente onde todos os funcionários têm a oportunidade de crescimento e de alcançar os seus objetivos, as empresas podem reter talentos valiosos e fazer uma redução na rotatividade, economizando recursos significativos no recrutamento e formação.

 


Melhoria do Desempenho Organizacional


Este novo modelo de ambição tem impacto direto no desempenho organizacional. Alguns estudos demonstram que as empresas com maior diversidade de género, etnia e de experiência nas suas equipas de liderança tendem a ter um melhor desempenho financeiro. Ao promover um modelo de ambição que valorize e apoie a diversidade de contribuições e de trajetórias de carreira, as organizações melhoraram a tomada de decisões, aumentam a sua competitividade e alcançam resultados superiores.

 


Desafios à Implementação


Um dos principais desafios na adoção de um modelo de ambição mais inclusivo reside na superação da resistência cultural interna. As mudanças profundas em valores e em normas estabelecidas, muito vincadas, exigem um compromisso de longo prazo e esforços contínuos da liderança para a educação e envolvimento a todos os níveis da organização. Este processo pode ser particularmente desafiante em ambientes que são tradicionalmente rígidos ou em setores menos expostos à diversidade e à inovação. Para além disso, a revisão das estruturas e das políticas existentes para a promoção da flexibilidade, do reconhecimento de diversas contribuições e o incentivo à igualdade, exige um investimento substancial em termos de tempo e de recursos. Estes esforços incluem a implementação de programas de formação para combater preconceitos, o desenvolvimento de novas métricas de desempenho que valorizem a diversidade de contribuições e a criação de políticas de trabalho flexíveis que façam resposta às necessidades de uma força de trabalho diversificada.

 


Potencial para o Futuro


Apesar desses desafios, o potencial de um novo modelo de ambição para transformar positivamente o mercado de trabalho é imenso. Ao adotar práticas que valorizem a diversidade de trajetórias e de contribuições, as organizações podem liderar pelo exemplo, incentivando outras empresas e diferentes setores a seguir esse caminho. Isto leva certamente a uma mudança cultural, onde a ambição e o sucesso são vistos através de uma lente de inclusão.

A longo prazo, a implementação bem-sucedida de um modelo de ambição inclusivo tem o potencial para promover uma maior igualdade de género e diversidade no local de trabalho, contribuindo ativamente para a redução das disparidades salariais e aumentando a representação de grupos sub-representados em posições de verdadeira liderança. Esta transformação beneficia, claro, os indivíduos diretamente afetados e também enriquece as organizações com uma gama mais ampla de perspectivas e de experiências, levando a melhores decisões e a uma maior capacidade para a inovação. Adicionalmente, ao promover um ambiente de trabalho que valorize a flexibilidade, a inclusão e a diversidade de ambições, as organizações podem desempenhar um papel vital à redefinição das expectativas sociais relativas ao trabalho, ao sucesso e à realização pessoal. Este novo paradigma tem o enorme potencial de contribuir para uma sociedade mais equitativa, onde o valor e o potencial de cada pessoa sejam reconhecidos e celebrados, independentemente da sua trajetória ou origem.

 

 

A evolução para um modelo de ambição mais inclusivo e adaptado às realidades contemporâneas é, portanto, um passo fundamental na redefinição das métricas de sucesso e de desenvolvimento profissional no século XXI.


Este paradigma responde às necessidades de uma força de trabalho cada vez mais diversificada e reflete igualmente um compromisso alargado com os valores de equidade, inclusão e de sustentabilidade, fundamentos essenciais de uma sociedade progressista.


Desafiando as tradicionais ideias do que é a ambição, as organizações posicionam-se como epicentros de inovação, criando ambientes propícios à criatividade e à diversidade de pensamento, elementos estes que se traduzem em vantagens competitivas sustentáveis e no impacto social positivo.


A adoção deste modelo oferece um caminho para o desmantelamento de estereótipos de género enraizados e de outras formas de desigualdade laboral, maximizando o potencial de todos os colaboradores, independentemente do seu género, origem ou percurso de vida. A flexibilidade, o reconhecimento de uma panóplia de contribuições e a promoção de um ambiente de trabalho inclusivo constituem estratégias de índole ética e representam, de igual modo, práticas empresariais perspicazes capazes de potenciar a retenção de talento, de estimular a inovação e de otimizar o desempenho organizacional.


No entanto, a concretização deste enorme potencial, exige uma liderança visionária e comprometida com a transformação cultural e estrutural. As organizações devem estar dispostas a investir no desenvolvimento de políticas e de práticas que sustentem este novo modelo de ambição, incluindo a educação contra o preconceito, a implementação de sistemas de reconhecimento abrangentes e a promoção da flexibilidade laboral.


Este investimento, embora possa representar um desafio inicial, é indispensável para a criação de um futuro laboral verdadeiramente justo, produtivo e inovador.




Referências:


  1. Broadbridge, A. M., & Fielden, S. L. (Eds.). (2018). Research handbook of diversity and careers. Edward Elgar Publishing.

  2. Coelho, I. A. S. (2020). A Influência dos Estereótipos de Género na Carreira de Mulheres em Posições de Poder e Autoridade nas Organizações: Uma Revisão Sistemática de Literatura. Universidade Católica Portuguesa.

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  7. Silva, A. D., Ferreira, S. I., Taveira, M. C., & Saavedra, L. (n.d.). Abordagens ao Desenvolvimento da Carreira das Mulheres. Revista P&E, 6(2).

  8. Subich, L. M. (2005). Career Assessment with Culturally Diverse Individuals. In W. B. Walsh & M. L. Savickas (Eds.), Handbook of vocational psychology: Theory, research, and practice (pp. 397–421). Lawrence Erlbaum Associates Publishers.

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