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Trabalho Árduo. Uma Virtude ou um Veneno da Sociedade Moderna?

Desde a infância, somos ensinados que o trabalho árduo é algo virtuoso e que, só através do suor do nosso rosto, será possível conquistar o mundo. Mas, será mesmo verdade?

O método de trabalho árduo é uma moralidade essencial em todas as sociedades, particularmente nas ocidentais onde o capitalismo reina soberano. Entretanto, este louvor inquestionável ao trabalho duro vem mascarar uma realidade nefasta. O perigo de romantizar profissões difíceis, onde os esforços físicos e/ou psicológicos são elevados, tem implicações desastrosas tanto para as pessoas como para a sociedade em geral.

Esta reflexão procura, portanto, analisar e criticar essa tendência.

Em primeiro lugar, é de máxima importância reconhecer que o trabalho, em si mesmo, não é algo intrinsecamente mau. Muito pelo contrário, é um meio essencial de subsistência e uma forma de auto-realização. Todavia, o problema surge quando romantizamos empregos difíceis, criando a ilusão que distorce a nossa realidade, minimiza as lutas diárias de todos os trabalhadores e, finalmente, normaliza condições de trabalho verdadeiramente inaceitáveis!

Um emprego difícil pode e deve ser visto como um desafio a ser superado, uma oportunidade para crescimento e para evolução pessoal e profissional. No entanto, quando essa dificuldade se torna em algo crónico, constante, exaustivo, sem proporcionar remuneração adequada oportunidades de progressão na carreira, retenção de talento ou condições de trabalho decentes, a romantização do trabalho árduo serve apenas para ocultar a exploração subjacente.

Existe certamente uma nobreza inerente ao esforço e à dedicação, que pessoalmente reconheço, mas não é possível ignorar o perigo subjacente que espreita no abuso destes ideais. Além do mais, é fundamental reconhecer que a natureza do trabalho mudou radicalmente nas últimas décadas, através do aumento substancial de empregos que exigem imensas horas e grande esforço mental, causando uma sobrecarga inédita no bem-estar físico e mental dos trabalhadores.

Agora, pergunto-me: deveríamos desistir desses empregos difíceis? É uma questão complexa, que não admite uma resposta simples.

Devo confessar que vejo vantagens e desvantagens na questão.

A segurança que um emprego efetivo oferece é uma vantagem tremenda, principalmente na era de incerteza económica em que vivemos. Não obstante, devemos ponderar a que custo tem essa segurança.

Se, estar num emprego efetivo implica sofrer de stress crónico, exaustão, ausência de vida pessoal e estar em constante risco no âmbito da saúde física e mental, talvez seja prudente questionar o valor dessa segurança.

Desistir de um emprego árduo poderá parecer um passo sensato, mas é igualmente importante garantir a existência de um plano concreto e viável para futuro. Uma forma de proteger a nossa saúde mental é, sem dúvida, dar prioridade ao nosso bem-estar e garantir o equilíbrio entre o trabalho e a nossa vida pessoal.

É importante reconhecermos que como indivíduos, temos um valor inerente que vai muito para além da nossa capacidade de trabalhar e produzir!

O culto do trabalho árduo e incessante pode facilmente levar à desvalorização de outros aspectos da nossa vida – relações, lazer, saúde, arte, entre outros.

A promoção de uma cultura laboral que valorize não só o trabalho árduo, mas também o repouso e a recuperação, é algo fundamental, sendo para isso necessário, a promoção de ambientes de trabalho saudáveis, a adopção de políticas laborais flexíveis, a garantia de férias e de licenças adequadas, e a provisão de apoio e recursos para lidar com o stress e o esgotamento.

É fundamental encarar a saúde mental e a saúde física, como tendo igual importância.

Em muitos empregos difíceis, a pressão mental pode ser tão grande, ou até maior, do que a pressão física. O esgotamento, a depressão, a ansiedade e outros problemas de saúde mental são muitas vezes minimizados e ignorados no ambiente de trabalho.

Criar ambientes de trabalho mentalmente saudáveis implica não só a identificação e o tratamento destes problemas, mas também a prevenção dos mesmos.

Além de mudanças nos locais de trabalho, são necessárias alterações culturais e sociais amplas.

Precisamos desmantelar a ideia de que o valor de uma pessoa reside apenas no seu trabalho, precisamos combater a romantização do trabalho árduo que mascara a exploração e o sofrimento e devemos promover uma narrativa que valorize uma variedade de formas de contribuição para a sociedade, assim como uma variedade de formas de realização pessoal!

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