Reflexões e Desafios da Nova Era Política em Portugal
- MindsetSucesso
- 12 de mar. de 2024
- 6 min de leitura
Portugal encontra-se num ponto de inflexão política e social.
A recente configuração eleitoral reflete a necessidade de realizar um apelo à introspecção e ao diálogo entre os diferentes segmentos da nossa sociedade.
A emergência de novas vozes políticas, como demonstrado pelo crescimento da extrema-direita, sinaliza uma vontade e um pedido por novas abordagens e pontos de vista nas políticas públicas e na gestão. Neste cenário singular e atual, a cidadania não pode ser passiva. É fundamental que cada um de nós adote uma postura de responsabilidade ativa, envolvendo-se no debate público e contribuindo para uma sociedade equitativa e mais compreensiva.
Este período de transformação convida à reflexão sobre as nossas verdadeiras convicções e ao fortalecimento da nossa capacidade para conviver com a diversidade, que é uma importante base de sustentabilidade de uma democracia saudável e dinâmica.
Devemos, portanto, prestar maior atenção ao conceito de liderança individual, que desta forma, ganha uma nova dimensão e profundidade, alinhando-se com o desenvolvimento pessoal e, claro, com o impacto mais amplo que cada um de nós pode ter no ambiente social e organizacional. A liderança pessoal, segundo pesquisas recentes, vai além da gestão pessoal ou das técnicas tradicionais de desenvolvimento pessoal. Ela abraça uma abordagem que incorpora a compreensão, a consciência e a disciplina intrínsecas à nossa condição como seres individuais, como sendo elementos de vital importância. Este modelo normativo de influência pessoal, conforme discutido nas tendências atuais, funciona dentro de um quadro teórico amplo que inclui teorias descritivas e dedutivas, como por exemplo a auto-regulação e a teoria cognitiva social.
A liderança pessoal não é apenas uma questão de sermos capazes de nos motivarmos pessoalmente a alcançar determinados objetivos, mas também de compreender e de alinhar esses mesmos objetivos com valores éticos e sociais verdadeiramente maiores, influenciando de forma positiva o mundo à nossa volta.
A liderança pessoal convida-nos então a sermos líderes de nós mesmos, através da procura ativa do nosso próprio sucesso e a contribuirmos de forma significativa para o bem-estar coletivo e para a sustentabilidade organizacional. Encoraja também a realizar uma abordagem reflexiva e proativa, onde as pessoas sejam incentivadas a refletir sobre suas ações, as aprendizagens e sobre a forma como se relacionam com o mundo exterior de forma ética e socialmente responsável.
Com este conceito, surge naturalmente a responsabilidade própria, que por sua vez, estende-se para além do universo pessoal, influenciando também o universo público. Esta responsabilidade trata de cumprir obrigações legais ou sociais e também de ter consciência ativa sobre como as ações e as escolhas pessoais afetam a comunidade e o ambiente em que estamos inseridos. Implica o profundo reconhecimento de que cada decisão tomada e cada ato realizado, tem implicações para além de nós próprios, afetando a complexa rede de relações que constituem a sociedade.
Entretanto, essa importante responsabilidade traz consigo um enorme desafio: a superação da inércia e da passividade.
Vivemos na era da informação instantânea e da gratificação imediata e esse facto traduz-se na constante tentação de abdicarmos da responsabilidade pessoal, atribuindo-a simplesmente às figuras de autoridade ou até mesmo ao acaso. Contudo, esse acto de abdicação é extremamente perigoso. Leva a uma espécie de niilismo, onde a falta de propósito e de significado na vida se transforma num árido deserto, despido de qualquer réstia de esperança ou de direção. É aqui mesmo, que a importância de olharmos para o melhor do nosso passado para nos conseguirmos guiar na direção do futuro se torna tão claramente evidente. A história, com todas as suas vicissitudes, oferece-nos lições realmente inestimáveis. Ela oferece-nos grandes exemplos de liderança, de coragem, de inovação e de resiliência que servem como blocos de suporte para a construção de um presente e de um futuro, possivelmente melhores. Não quero com isto dizer que este é um apelo ao tradicionalismo cego, mas sim ao discernimento crítico, à capacidade de podermos extrair da tradição o que é valioso e de conseguirmos adaptá-lo às circunstâncias atuais.
A verdadeira maturidade, seja individual ou social, manifesta-se nesta capacidade para forjarmos o nosso próprio destino.
Não é um caminho fácil.
Exige deliberação, escolha consciente mas, acima de tudo, a coragem para assumirmos a responsabilidade pela própria vida e pelo bem-estar comum. Esta maturidade é o antídoto para o desespero e para a apatia, pois confere significado e propósito, mesmo nos tempos de grande adversidade.
Por fim, abordo o paradoxo da liberdade e da responsabilidade que, revelando-se no pressuposto voluntário de encargos que, embora possam parecer algo limitados, na verdade libertam-nos e libertam a sociedade.
A verdadeira liberdade não se encontra na ausência da responsabilidade, mas na escolha consciente de assumirmos essas responsabilidades, na compreensão de que nesses encargos se encontram o significado e a esperança.
Esta oportunidade para redefinirmos o futuro coletivo carrega em si a necessidade de um novo paradigma educacional e social. A educação, assim sendo, ultrapassa o simples acumular de conhecimento, e transforma-se numa ferramenta de máxima importância para o despertar da consciência como cidadãos, para a formação de indivíduos capazes da realização de reflexões críticas, de conhecimento próprio e, sobretudo, de ações responsáveis. É claro o facto de que o papel dos educadores e das instituições é fundamental. Deve ser promovido um tipo de educação que prepare as pessoas para o mercado de trabalho e que de igual forma as prepare para a vida como membros ativos e conscientes da sociedade.
Uma educação que encoraje a questão, a curiosidade e a procura constante pelo significado, uma educação que não tenha receio de confrontar os grandes dilemas e os desafios do nosso tempo.
Neste complexo e longo processo educativo, o ensino das áreas de humanidades, da filosofia, da história, da literatura, entre muitas outras, assume uma relevância particular. Estas áreas do conhecimento oferecem aos estudantes as ferramentas para uma melhor compreensão da condição humana, dos valores, da ética e da complexidade das interações sociais e políticas. Através delas, os futuros cidadãos aprendem a valorizar a diversidade, a empatia e a solidariedade, como elementos essenciais para a coesão social e para a batalha contra os desafios globais. Paralelamente, o desenvolvimento de competências sociais e emocionais, como a empatia, a colaboração, a resiliência e a liderança orientada à ética, deve ter uma importância superior, de igual forma. Estas competências são fundamentais para a criação de relações interpessoais saudáveis, para a liderança e para a construção de comunidades fortes, seguras e resilientes. São, no seu somatório, as competências que permitem aos indivíduos sobreviver e prosperar no ambiente atual.
Mas, a responsabilidade pela construção de uma sociedade consciente e responsável não pode recair apenas sobre as pessoas ou ao sistema educativo. As organizações, os governos e as instituições de todos os tipos devem também adotar uma postura de maior responsabilidade social e ética. Devem promover práticas justas, sustentáveis e transparentes, contribuindo assim para o bem-estar da comunidade e para a preservação do meio ambiente. Realizar este compromisso com a responsabilidade social torna-se, sem espaço para dúvida, um claro reflexo da liderança e da maturidade institucional.
Por fim, devo referenciar a comunicação social e as plataformas digitais, que desempenham um papel ambíguo. Por um lado, oferecem oportunidades fantásticas para a educação, para a comunicação e para a mobilização social. Por outro lado, podem também contribuir para a disseminação de informações falsas, para a polarização e a alienação. Portanto, ter responsabilidade na utilização destas ferramentas torna-se um componente fundamental à cidadania no século XXI. As pessoas devem aprender a discernir a veracidade e a relevância das informações com que se deparam, enquanto os criadores e os gestores de conteúdo devem comprometer-se para com a integridade e a veracidade.
Face ao panorama vigente em Portugal, torna-se urgente a tomada de consciência por parte de cada cidadão das suas responsabilidades individuais e coletivas.
A construção de uma sociedade equitativa, inclusiva e consciente depende do envolvimento ativo e informado de todos nós.
É fundamental abraçarmos uma liderança pessoal baseada em valores éticos e sociais, contribuindo de forma positiva para o ambiente que nos rodeia e para o bem-estar comum.
Face ao panorama vigente em Portugal, torna-se urgente uma tomada de consciência por parte de cada cidadão das suas responsabilidades individuais e coletivas. A construção de uma sociedade mais equitativa, inclusiva e consciente depende do envolvimento ativo e informado de todos nós.
É essencial, abraçarmos uma liderança pessoal baseada em firmes valores éticos e sociais, contribuindo positivamente para o ambiente que nos rodeia e para o bem-estar comum.
Esta é a nossa oportunidade de forjarmos um futuro resiliente, assente na democracia, que respire pela vontade e pela ação de todos, sendo cada passo e cada decisão partilhados em conjunto, pavimentando assim o caminho para uma sociedade cada vez mais próspera e harmoniosa.
Referências:
Pereira, A. T. (2018). A relação entre os estilos de liderança e a perceção da responsabilidade social empresarial. Recuperado do Repositório da Universidade de Lisboa.
Augusto, S. C. V. (2017). Liderança ética e bem-estar no trabalho: o papel moderador das práticas de responsabilidade social. Recuperado do Repositório do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.
Fatima, T., & Elbanna, S. (2023). Corporate Social Responsibility (CSR) Implementation: A Review and a Research Agenda Towards an Integrative Framework. Journal of Business Ethics, 183, 105–121.
Responsible Leadership for a Portugal with a Future: “If we make leadership just a job, we will be impoverishing it”. (s.d.). Recuperado de CATÓLICA-LISBON.
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