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Ouroboros




O ouroboros é um símbolo místico representado por uma serpente ou um dragão que devora a própria cauda e que serve como uma metáfora para o ciclo contínuo de renovação e de regeneração.

Fazendo uma ligação ao conhecimento humano, este símbolo torna-se mais do que a sua origem mitológica ilustra, para demonstrar um processo igualmente vital: a incessante absorção e reabsorção do conhecimento, uma caminhada de aprendizagem que é simultaneamente destrutiva e criativa.

 

A aquisição de conhecimento raramente é um caminho linear. É um ciclo dinâmico onde a aprendizagem é constantemente consumida e transformada, gerando novas perspectivas e ideias. Para este processo, o conhecimento não é simplesmente acumulado, mas digerido e reconfigurado, permitindo a criação de novas teorias e de conceitos a partir das ruínas do entendimento prévio.

 

O conhecimento, assim como o ouroboros, não conhece início nem fim.

Existe apenas uma transformação contínua, uma eterna criação que desafia as nossas percepções e que expande os nossos horizontes.

 

 

Autoconsumo do Conhecimento


A ideia do autoconsumo do conhecimento, alinhada com a imagem do ouroboros, abraça a noção de um fenómeno onde a aprendizagem e a partilha são vistos como mais do que atividades finitas. São um processo contínuo de renovação intelectual!

Assim como a serpente que devora a própria cauda, uma pessoa inicia uma viagem onde o conhecimento adquirido é constantemente desafiado e reformulado. Este ciclo de autoavaliação e de reformulação é uma prática que transforma profundamente a perspectiva do mundo do aprendiz, forçando-o a digerir e reinterpretar as informações de uma maneira que sustente uma compreensão mais refinada da realidade.

 

Este ciclo contínuo de consumo e renovação do conhecimento é fundamental para o desenvolvimento pessoal e intelectual porque ajuda a promover uma mente flexível e adaptativa, capaz de acumular informação e transformá-la. Cada ciclo de aprendizagem concluído é simultaneamente o início de outro, em que as ideias antigas são vistas com um olhar renovado e onde novos conhecimentos e informações são integrados, enriquecendo a mente que se torna, assim, mais apta a navegar e a influenciar o mundo ao seu redor.

 

 

Contribuições para o Conhecimento Coletivo


O impacto deste processo de autoconsumo tem grandes implicações para o conhecimento coletivo. Com a partilha de conhecimento refinado e reavaliado, uma pessoa pode assim contribuir para uma base de conhecimento mais rica e diversificada, prontamente disponível para a sociedade.

Este enriquecimento contínuo do reservatório de conhecimento comum é fundamental para o avanço tecnológico, científico e cultural da humanidade, permitindo que as comunidades enfrentem de forma altamente capaz os desafios atuais e futuros.

 

 

Novas Noções e Teorias


A reabsorção e a expansão do conhecimento são catalisadoras para a formação de novas teorias e de novos conceitos. Ao revisitar e reformular o conhecimento existente, surgem naturalmente novas ideias que desafiam ou complementam as noções previamente estabelecidas. Esta dinâmica é o motor de progresso para inúmeras disciplinas, impulsionando a inovação e as descobertas que, por vezes, redefinem a nossa perspetiva sobre o mundo. Cada nova teoria ou conceito é um tijolo adicionado à construção contínua do edifício do conhecimento humano, demonstrando claramente desta forma, como a transformação e a evolução do pensamento são essenciais para a evolução da sociedade.

Este processo de autocanibalização do conhecimento é um testemunho do poder e da necessidade do pensamento contínuo e evolutivo no mundo moderno. É através deste ponto de vista que podemos começar a entender como as contribuições individuais no campo do conhecimento são verdadeiramente essenciais para o progresso coletivo, sustentando a inovação e a adaptação, face à constante mudança.

 


Exemplos do Ciclo de Autoconsumo


A história está repleta de figuras que personificam o ciclo de autocanibalização do conhecimento.


Um exemplo notável é Kip Thorne, cujo trabalho em ondas gravitacionais não só confirmou uma previsão da teoria da relatividade geral de Einstein, mas também abriu uma nova janela para o universo. Thorne não se limitou ao conhecimento científico existente, ao invés ele desafiou, incorporou e reformulou teorias prévias existentes, levando a descobertas revolucionárias que continuam a mudar a física moderna.


Outro exemplo atual é Demis Hassabis, co-fundador da DeepMind. Hassabis exemplifica como a absorção e a reutilização de conhecimentos e experiências anteriores podem ser usadas para promover inovações disruptivas e avançar tecnologias pioneiras. A sua abordagem interdisciplinar para a inteligência artificial resultou no AlphaGo, um programa que derrotou o campeão mundial de Go, um feito considerado como um importante marco na IA. Assim como Elon Musk, Hassabis demonstra o poder da reabsorção de conhecimentos para resolver problemas complexos e ultrapassar fronteiras tecnológicas.


Katherine Johnson é um exemplo inspirador de alguém que desafiou as normas estabelecidas. Como uma das poucas mulheres afro-americanas a trabalhar na NASA durante a era espacial, ela desempenhou um papel fundamental no cálculo das trajetórias de voo para várias missões espaciais, incluindo o voo histórico de Apollo 11 à Lua. O seu trabalho e a sua dedicação ajudaram a abrir um importante caminho para futuras gerações de mulheres e para as minorias nas áreas da ciência e da tecnologia.


Outro exemplo é Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web. Ele revolucionou a forma como as pessoas acedem e partilham informações, transformando a internet como uma ferramenta académica e militar numa plataforma global para a comunicação e para o comércio. Através da sua inovação, ele demonstrou como a reabsorção e a reformulação do conhecimento existente podem levar a avanços tecnológicos de elevada significância.

 

 

Percepções


Ver o mundo através do prisma da autocanibalização do conhecimento altera de forma significativa a nossa percepção e a interpretação das informações e de eventos. Este conceito promove uma visão cíclica de aprendizagem, onde cada novo conhecimento adquirido e cada experiência vivida são reavaliados constantemente e integrados, criando uma base cada vez mais rica para possibilitar entender de melhor forma o mundo ao nosso redor. Ao adotarmos esta visão, percebemos que cada momento de aprendizagem não é algo final, mas um ponto de partida para uma compreensão profunda. Assim, através deste ponto de vista, começo a ver o mundo não como uma série de eventos desconexos, mas como uma rede interligada onde cada ação, cada decisão, e cada pensamento são partes de um enorme puzzle de conhecimento, o que me permite abordar problemas e situações que surgem, com mente aberta e um pensamento integrado, antecipando rapidamente as consequências e reconhecendo oportunidades que talvez não fossem evidentes sob uma perspetiva linear.

 

A abordagem da autocanibalização do conhecimento tem um impacto profundo na construção da nossa narrativa pessoal e identidade. Ela encoraja-nos a ver a vida como um processo constante de aprendizagem e de autodescoberta, onde cada experiência é uma oportunidade para evoluir e enriquecer quem somos.

 

A minha própria jornada reflete essa ideia.

Ao rever constantemente as minhas experiências passadas e integrá-las com conhecimentos novos, estou a criar uma versão de mim mesmo cada vez mais alinhada com os meus valores e as minhas aspirações. Cada revisão da minha história pessoal é assim, mais do que uma reflexão, mas uma oportunidade para eu poder redefinir, alinhar e refinar a minha identidade, permitindo-me adaptar e responder de forma eficaz aos desafios.

 

A autocanibalização do conhecimento, tal como a concebo, é um processo dinâmico onde consumo e renovo o meu próprio saber para melhor me adaptar e aplicar em novos contextos, alimentando um ciclo contínuo de desenvolvimento das minhas capacidades e compreensões. Esta abordagem torna-se evidente em muitas das minhas atividades, como quando escrevo artigos, transmito conhecimento por meio de formações ou em reuniões de trabalho, ocasiões em que frequente revisito teorias aprendidas e partilhadas anteriormente, descobrindo novas aplicações ou estabelecendo ligações até então ignoradas.

Este é um processo essencial para o meu desenvolvimento profissional, pois permite-me enfrentar desafios altamente complexos com soluções inovadoras e muito bem fundamentadas, apoiadas por conhecimento que é consistentemente atualizado e expandido.

 

Para facilitar este ciclo contínuo de aprendizagem e de renovação, recorro frequentemente a ferramentas como por exemplo mapas mentais, que me ajudam a reavaliar os conhecimentos adquiridos, e mantenho um diário de aprendizagem, onde registo ideias para futuras revisões. No entanto, aplicar os conhecimentos antigos a novos contextos nem sempre é um processo sem desafios. Cada erro, contudo, transformou-se numa importante lição que fortaleceu a minha capacidade para adaptação. O papel da criatividade para este processo é, portanto, absolutamente fundamental, permitindo-me olhar para além do óbvio e inovar ao aplicar conhecimentos antigos de maneiras novas e eficazes. Assim, a autocanibalização do conhecimento transforma-se em muito mais do que uma estratégia de aprendizagem, sendo incorporada num estilo de vida que perpetua a minha evolução pessoal e profissional, incentivando-me a transformar continuamente o acumulado de saberes numa fonte de novas ideias e soluções.

 

 

Renovação Contínua


Neste diálogo com o conceito do ouroboros aplicado ao domínio do conhecimento, chegamos a uma compreensão vital. O processo de aprender, desaprender e reaprender é fundamental para o crescimento pessoal e serve como um impulso para o avanço coletivo da humanidade. Este ciclo de autocanibalização do conhecimento, onde constantemente consumimos e regeneramos a nossa compreensão e as nossas capacidades, é essencial para a adaptação.

 

Perguntem-se como podem aplicar o conhecimento adquirido de formas novas e criativas, como podem desafiar e expandir as vossas perspectivas atuais, e como podem contribuir para o desenvolvimento do conhecimento coletivo.

 

A adoção deste ciclo enriquece-nos, proporcionando uma sólida base para o crescimento pessoal e profissional contínuo e ajuda a alimentar o progresso coletivo. Ao partilharmos conhecimento renovado e ao estarmos envolvidos em diálogos construtivos, cada um de nós pode desempenhar um papel ativo para o avanço da sociedade e das comunidades onde estamos inseridos.

 

Portanto, que cada um de nós possa ser um ouroboros na esfera do conhecimento, eternamente consumindo-se e regenerando-se, na perpétua procura por sabedoria e compreensão. Que nos seja possível transformar cada nova aprendizagem num degrau para ascendermos a uma visão mais ampla e a um mundo mais compreensivo. Vamos abraçar este ciclo de renovação constante, não o vendo como um fardo, mas como uma celebração do potencial humano para a transformação contínua.

 


 

Referencias:

 

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