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O Crescente Desafio da Internet dos Comportamentos

A Internet dos Comportamentos (IoB) está na vanguarda tecnológica que promete redefinir os limites da interação humana com o mundo digital, o que significa que é muito mais do que um marco na evolução tecnológica, situação que naturalmente faz o convite a uma reflexão profunda acerca da natureza da nossa relação com a tecnologia e, mais especificamente, como essa relação influencia e molda o nosso próprio comportamento.

O foco da IoB, encontra-se na capacidade de colectar, analisar e utilizar dados relativos ao comportamento humano de formas nunca antes imaginadas. Assim, os dispositivos e as plataformas digitais tornam-se os olhos e ouvidos de uma rede omnipresente, capturando cada clique, cada movimento, cada preferência e cada decisão. Esta grande riqueza de informações comportamentais oferece às empresas e às organizações uma chave de ouro com a capacidade de abrir portas a um caminho sem precedentes de personalização e de eficiência nos serviços prestados. No entanto, esta mesma chave abre também a porta para profundas questões éticas e dilemas morais.

Refletir acerca da tecnologia da IoB, oferece-me o desafio de equilibrar o tremendo potencial dos benefícios com a necessidade de proteção da privacidade e da autonomia individuais.

Como sociedade, devemos perguntar: onde se traça a linha entre a inovação e a intrusão?

A possibilidade de predição de influência de comportamentos com precisão, pode levar a que se tornem possíveis avanços significativos nas áreas da saúde, da educação e da segurança. No entanto, sem as devidas salvaguardas adequadas, esse mesmo poder pode ser utilizado para a manipulação, para o controlo ou até mesmo para a discriminação. A IoB exige, portanto, uma abordagem metódica e equilibrada que reconheça de igual forma as suas promessas e os seus perigos. Para isto, devem ser implementados rigorosos padrões éticos e legais que governem a coleta e o uso de dados comportamentais. Esses padrões devem garantir a transparência nas práticas de coleta de dados, a garantia do consentimento informado das pessoas e a promoção da utilização desses dados de uma forma que respeite a dignidade e os direitos humanos. Para além disso, refletir acerca da IoB desafia-me também a considerar o impacto a longo prazo desta tecnologia na estrutura da sociedade. De que forma vai a IoB influenciar as nossas noções de identidade, privacidade e de comunidade? De que forma vai alterar a nossa percepção de autonomia e de liberdade? Estas são perguntas que não têm respostas fáceis, mas são fundamentais para garantir que a IoB seja desenvolvida e implementada de uma maneira que sirva sempre o bem comum, promovendo dessa forma o progresso sem o sacrifício dos valores fundamentais que nos definem como seres humanos.

É imperativo abordar as questões éticas e de privacidade que esta tecnologia suscita intrinsecamente. À medida que exploro o potencial da IoB, encontro-me num cruzamento entre a inovação tecnológica e a preservação da integridade individual. Esta área, repleta de enormes possibilidades, carrega em si uma série de considerações éticas que não posso ignorar.

A primeira e talvez mais premente questão ética relacionada à tecnologia IoB é a privacidade dos dados. A coleta de dados comportamentais em grande escala levanta sérias preocupações sobre quem tem acesso a essas informações e de que forma são utilizadas. A linha entre a coleta de dados para melhoria de serviços e a vigilância intrusa é ténue e, sem regulamentação clara e consentimento explícito, a IoB corre o risco de violar esse direito fundamental. Adicionalmente, as implicações éticas da IoB estendem-se também à autonomia individual. Com a capacidade de predição e de influência de comportamentos, a IoB tem o potencial de diminuir a liberdade de escolha. Existe um sério e muito real risco de que, ao invés de capacitar as pessoas, a IoB possa ser utilizada para a manipulação de decisões e de comportamentos, subvertendo a autonomia e promovendo interesses comerciais ou outros sob o véu da personalização. Outra questão ética diz respeito à equidade e à discriminação. Os algoritmos que alimentam a IoB são tão imparciais como os dados que os treinam. Se esses dados contiverem viés, sejam eles intencionais ou não, os resultados produzidos pela IoB vão perpetuar e até mesmo amplificar esses viés, levando a práticas discriminatórias. Está é uma situação particularmente problemática em contextos como a contratação de funcionários, a concessão de crédito e a prestação de serviços de saúde, onde as decisões baseadas em dados podem ter consequências muito sérias para os indivíduos afetados.

Diante destas questões éticas e de privacidade, torna-se vital o desenvolvimento e a implementação de diretrizes éticas altamente te rigorosas para a coleta, a análise e o uso de dados comportamentais, devendo-se para isso garantir a transparência nas práticas de coleta de dados, obter consentimento informado e revogável das pessoas, e implementar medidas de segurança de dados para proteger as informações coletadas.

É também, de grande importância, trabalhar a educação acerca dos direitos digitais e das práticas de privacidade, tanto para os consumidores como para os profissionais que trabalham com a tecnologia IoB. Criar um diálogo aberto entre as partes interessadas, incluindo as empresas, os reguladores, os investigadores académicos e a sociedade civil, é uma ação essencial para possibilitar a exploração entre o equilíbrio dos benefícios da IoB e a proteção dos direitos e dos valores humanos.

No que do respeito ao desafio da transparência e do consentimento, a transparência é um aspecto fundamental para construir e manter a confiança entre os utilizadores e as entidades que coletam e analisam os dados comportamentais. A clareza relativamente a estes aspectos permite que as pessoas tomem decisões informadas sobre sua participação nos sistemas alimentados pela IoB. Mas, alcançar a transparência é algo desafiante, dada a complexidade dos sistemas tecnológicos e a natureza muitas vezes cinzenta dos algoritmos que operam por detrás das cortinas digitais. Junto com a transparência, o consentimento é também um aspecto importante para garantir que o uso dos dados comportamentais respeite a autonomia do utilizador. O consentimento vai muito para além de um simples clique num botão de aprovação, deve ser uma escolha ativa feita com a plena consciência das implicações dessa decisão, o que requer que as informações acerca da coleta e do uso de dados sejam apresentadas de forma clara e acessível, permitindo que os utilizadores compreendam verdadeiramente o que estão a consentir. O desafio aqui reside no equilíbrio da necessidade em fornecer informações completas sem sobrecarregar as pessoas com termos técnicos ou com documentos extensos e complexos. O consentimento deve também ser revogável a qualquer momento, oferecendo aos utilizadores a liberdade para mudarem de ideias sobre como os seus dados são utilizados. Implementar essa flexibilidade sem comprometer a funcionalidade dos serviços que dependem da análise de dados comportamentais é uma tarefa importante e necessária para respeitar os direitos das pessoas.

O caminho para superar o desafio da transparência e do consentimento requer a inovação tecnológica e a evolução das práticas empresariais. As ferramentas e os interfaces de utilizador intuitivos podem facilitar a compreensão dos processos de coleta de dados, enquanto as políticas corporativas éticas e as regulamentações podem garantir que a transparência e o consentimento sejam verdadeiramente mais do que simples formalidades, mas princípios fundamentais que orientem a interação entre a tecnologia e a sociedade.

A responsabilidade corporativa surge, de forma natural como um elemento de fundamental importância para a garantia de uma aplicação ética e sustentável desta tecnologia. À medida que as organizações se vão orientando pelo desafio da transparência e do consentimento, elas também enfrentam a tarefa de incorporar práticas responsáveis em todas as suas operações. Esta responsabilidade exige o cumprimento das normas legais e regulamentares e um compromisso profundo para com os valores éticos e com o bem-estar das pessoas e da sociedade como um todo.

A responsabilidade corporativa na era da IoB implica a necessidade de uma consciência e ação proativa relativamente aos potenciais impactos que a análise de dados comportamental pode ter sobre a privacidade, a autonomia e a equidade. As organizações devem perguntar se podem implementar certas tecnologias e se o devem fazer, considerando todas as implicações morais e sociais das suas escolhas. Este aspeto requer uma reflexão extremamente cuidada acerca da missão e dos valores que guiam a empresa, assim como a disposição para dar prioridade ao bem-estar humano acima dos interesses comerciais imediatos.

Uma parte integrante da responsabilidade corporativa na gestão da IoB é o desenvolvimento e a implementação de políticas éticas de dados. Políticas estas, que devem abordar questões como a coleta mínima de dados, o armazenamento seguro, o uso responsável dos dados e a partilha ética de informações. Adicionalmente, as organizações devem-se empenhar na promoção da alfabetização digital dos seus stakeholders, garantindo que os utilizadores tenham uma compreensão muito clara de como os seus dados são utilizados e quais controlos têm sobre essa mesma utilização. O envolvimento com todas as partes interessadas é um aspecto essencial para exploração coletiva das melhores práticas da IoB. Para isso devem ser incluídos: o diálogo com os reguladores, os consumidores, os especialistas em ética, investigadores académicos e outras empresas, para desenvolver um consenso acerca dos padrões éticos e das diretrizes para o uso da IoB. As empresas devem também considerar o impacto das suas práticas de IoB sobre a equidade e a inclusão, o que significa garantir que os benefícios desta tecnologia estejam acessíveis a uma ampla gama de pessoas e que as soluções desenvolvidas não perpetuem as desigualdades existentes ou criem novas formas de exclusão. A responsabilidade corporativa, portanto, exige uma abordagem integrada que considere as consequências sociais da IoB, fazendo uma procura ativa de forma a reduzir as disparidades e a promover uma sociedade mais justa e igualitária.

Ao navegarmos pelo complexo mundo da Internet dos Comportamentos (IoB), as questões éticas e de privacidade, os desafios de transparência e o consentimento, e a imensa responsabilidade corporativa, chegamos a uma conclusão reflexiva sobre este horizonte tecnológico. A IoB, com o seu imenso potencial para entender e influenciar o comportamento humano, abre as portas para inovações sem precedentes, mas também coloca nas nossas mãos o enorme poder para modificarmos o tecido da nossa sociedade de formas que apenas agora começamos a compreender.

Refletir acerca da IoB leva-me também a ponderar sobre o que a tecnologia pode e o que deve fazer. Enquanto estamos maravilhados com as possibilidades de personalização e de eficiência, somos igualmente chamados à consideração das implicações em viver num mundo onde cada ação pode ser facilmente encontrada, analisada e potencialmente influenciada. Este é um momento de inflexão, onde as escolhas que fazemos hoje vão certamente definir o legado da nossa era digital para as gerações futuras.

Realizo também que, a IoB é na mesma medida um desafio e uma oportunidade. O desafio reside nas suas complexidades éticas, com a garantia de que a tecnologia seja utilizada de forma responsável e justa. A oportunidade, está na capacidade de utilizar a IoB para a criação de soluções inovadoras que consigam dar resposta às necessidades humanas de forma eficaz, promovendo um futuro onde a tecnologia e a humanidade coexistam em harmonia.

Esta conclusão reflexiva não é um fim por si só, mas um convite à continuação do diálogo e da investigação na forma em como a IoB e as tecnologias emergentes podem ser orientadas de forma a servir os melhores interesses da sociedade.

Assim, à medida em que avançamos, devemos fazê-lo com plena consciência das responsabilidades que acompanham o poder da informação e com a séria promessa e o firme compromisso de proteger os valores fundamentais que nos definem como seres humanos.

No fim de contas, o verdadeiro sucesso da inovação tecnológica não vai ser medido apenas pelo seu impacto económico, mas pela contribuição para a construção de um mundo justo, inclusivo e sustentável.

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Referências:

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