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Acerca da questão da lealdade no contexto laboral.
É relevante expor desde já que a minha defesa deste conceito de lealdade não se restringe à mera consagração de uma carreira numa única entidade. Pelo contrário, subscrevo uma visão humanista: a lealdade profunda, que transcende os limites organizacionais e tem raízes profundas na capacidade humana do compromisso e da reciprocidade.
Na primeira dimensão, a do indivíduo, a lealdade concretiza-se no seu empenho, na dedicação e na entrega ao trabalho. A lealdade não significa apenas assinar o cartão de ponto na hora certa, executar tarefas atribuídas ou respeitar regras organizacionais instituídas.
Lealdade é um estado mental, um compromisso intrínseco que nos leva a dar o melhor de nós próprios no desempenho das nossas funções, a procurar a excelência e a contribuir de forma que seja verdadeiramente significativa para com os objectivos da empresa. Este é o tipo de lealdade que permite que as organizações prosperem, que inspira a inovação, que fortalece as equipas e que, em última análise, cria valor para todos os stakeholders.
No entanto, o empenho e a dedicação não surgem num perfeito vácuo.
Nós, seres humanos, somos criaturas sociais, movidas por relacionamentos de troca e reciprocidade. Assim, o nosso compromisso para com uma organização é sempre influenciado, em grande medida, pela percepção que temos do compromisso da organização para connosco. Este é o aspecto bidireccional da lealdade, e é aí que reside a segunda dimensão do conceito.
A organização, por sua vez, deveria demonstrar lealdade para com os seus membros, não apenas através de uma remuneração adequada, mas através do empenho no seu desenvolvimento pessoal e profissional. A organização leal, ideal, investe na formação e na capacitação dos seus colaboradores, cria um ambiente de trabalho seguro e saudável, valoriza a diversidade e a inclusão, e procura a justiça e a equidade nas suas práticas de gestão.
Afirmo ainda que a lealdade organizacional deve ir ainda mais longe através da tradução destes aspetos no apoio dos seus membros durante tempos difíceis, sejam eles profissionais ou pessoais. Em tratar os colaboradores como seres humanos integrais, com vidas, necessidades e aspirações fora do local de trabalho, e estarem dispostos a fazer ajustes para acomodar essas realidades. É o constante cultivar de um sentido de comunidade e pertença, onde cada indivíduo se sinta valorizado, respeitado e apoiado.
Como já afirmei inúmeras vezes ao longo dos meus textos nesta plataforma e noutras, a lealdade não deverá ser confundida com servidão ou submissão cega e absoluta. Ser leal não significa aceitar sem questionar as práticas e as políticas da organização, nem sacrificar a integridade pessoal em prol da conformidade. Pelo contrário, a verdadeira lealdade implica ter coragem e autenticidade. Significa estarmos dispostos a desafiar o status quo quando necessário, a dar feedback honesto e construtivo, a lutar por melhorias e a defender os valores que acreditamos serem justos e corretos. Sem tudo isto não poderá existir crescimento e evolução.
Enquanto reflexão conclusiva, penso que a lealdade, nesta sua definição humana, é uma virtude não só desejável, mas essencial, tanto para indivíduos como para as empresas. Para os indivíduos, é uma forma de integridade, uma expressão da nossa capacidade de compromisso e dedicação. Para as organizações, é um pilar de sustentabilidade e sucesso a longo prazo, um meio de criar uma cultura de respeito, confiança e pertença.
Para mim, como profissional e como ser humano, a lealdade é, acima de tudo, uma questão de reciprocidade.
Dou sempre o meu melhor para a organização e espero que a organização faça o mesmo por mim!
Na ausência de reciprocidade, a lealdade torna-se completamente vazia e insustentável. Quando ela existe, é uma força muito poderosa, capaz de inspirar, motivar e transformar, tanto a nível individual como organizacional, naturalmente.
As organizações que cultivam a lealdade como algo bidirecional beneficiam não só de desempenho superior, mas também de uma maior retenção de talentos e de um ambiente de trabalho positivo e produtivo.
Os colaboradores que sentem que as organizações são leais, ficam naturalmente dispostos a assumir riscos, a inovar, a desafiar o status quo e, fundamentalmente, a dedicarem-se de forma apaixonada ao trabalho.
Deve também ser fundamental a compreensão de que este pacto de lealdade não é incondicional nem eterno. Está sujeito a um processo contínuo de negociação e recalibração, à medida que as circunstâncias se alteram e novas realidades emergem.
A lealdade requer flexibilidade e adaptação, tanto por parte dos indivíduos como das organizações. Requer a capacidade de reconhecer e responder a mudanças nas necessidades e expectativas de ambas as partes, de reavaliar e renegociar os termos do contrato de lealdade à medida que o tempo passa.
Considero que tal dinamismo é, na verdade, uma das maiores forças da lealdade, que permite que os indivíduos e as organizações cresçam e evoluam juntos, numa relação de interdependência e co-evolução. Permite que as organizações se mantenham relevantes e resilientes no mundo atual que está em constante mudança, e que os indivíduos encontrem propósito e satisfação no seu trabalho.
Observando o conceito de lealdade como um pacto dinâmico e mutável pode, em alguns casos, levar a decisões muito difíceis.
Pode levar a eventuais rupturas, a transições de carreira, a mudanças organizacionais.
Mas, acredito eu, que estas decisões e mudanças são, em última análise, uma manifestação de uma lealdade com um peso e um valor ainda maior: a lealdade a nós mesmos, aos nossos próprios valores, às nossas aspirações!
São uma forma de autenticidade, de integridade, de fidelidade ao nosso verdadeiro Eu!
Porque, no fim de contas, a lealdade é, na sua essência, uma questão de autenticidade. É sermos verdadeiros connosco mesmos e com os outros, sobre vivermos de acordo com os nossos princípios e convicções, sobre o compromisso com o que acreditamos ser justo e correcto.
Sejamos portanto, leais a nós mesmos, às empresas onde estamos envolvidos, aos nossos colegas e à nossa missão. Acima de tudo, sejamos leais à nossa humanidade, à nossa capacidade de sonhar, de criar, de amar e de nos importarmos. Sejamos leais à nossa capacidade de fazer a diferença, de tornar o mundo num lugar melhor.
Sejamos leais ao nosso potencial e à nossa vontade de alcançá-lo, porque, acredito eu, é essa a verdadeira medida da nossa lealdade.
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