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1/5 ⁞ Género e Estilos de Liderança




O texto de hoje inaugura uma série de cinco artigos dedicada à exploração dos desafios e das oportunidades inerentes à interseção entre o género e a liderança. Nestes artigos, vou tentar através de uma abordagem crítica e informada, visar a desconstrução de concepções antiquadas e abrir o importante caminho para uma nova era de liderança inclusiva.

 

 

A liderança, como tenho aqui abordado, ultrapassa a simples gestão de recursos ou a direção de equipas. Ela é a essência do ethos organizacional e é responsável pelo estímulo da inovação e por um ambiente de trabalho equitativo. À medida que nos deparamos com uma força de trabalho notavelmente diversa, abrangendo uma enorme gama de géneros, etnias, culturas e de perspectivas, torna-se premente adequar os estilos de liderança utilizados para esta nova realidade, olhando para a mesma como mais do que um desafio, mas sim como uma real, verdadeira e urgente necessidade.

Para este efeito é requerido o abandono progressivo dos modelos de liderança estanques e monocromáticos, que historicamente privilegiaram certas normas de género, para assim possibilitar a adoção de uma visão de liderança mais flexível e inclusiva e reconhecer que a diversidade na liderança não é um complemento, mas um fundamental componente intrínseco ao sucesso organizacional. A partir desta premissa, a liderança da atualidade deve procurar a inclusão ativa, atribuindo valor às diferenças como sendo fontes de força e de inovação. A evolução dos estilos de liderança, por conseguinte, não se trata simplesmente da adição de vozes diversificadas à mesa de decisões, mas sim da reestruturação na forma como lideramos, comunicamos e colaboramos.

 

Na verdade, estamos a viver uma mudança paradigmática onde a liderança inclusiva e adaptativa é o novo padrão para a excelência.

 

Neste primeiro artigo, pretendo explorar a importância na redefinição dos paradigmas da liderança face à crescente diversidade da força de trabalho e, discutir como a transição para os estilos de liderança que transcendam as normas de género tradicionais, estejam alinhados com as organizações e os valores éticos da sociedade atual, potencializando o posicionamento estratégico para obtenção de máximo sucesso.

 

Este primeiro passo nesta série de artigos serve como convite ao diálogo sobre as práticas de liderança atuais e como um importante apelo à ação para os líderes e as organizações que aspiram a ser o zénite do progresso, da inovação e da inclusão no século XXI.

 

A Evolução da Força de Trabalho

 

A transformação da força de trabalho à escala global pode ser realizada pela presença cada vez mais intensa em todos os níveis organizacionais de mulheres e de grupos étnicos e culturais minoritários, que assim, conquistam posições de crescente visibilidade e influência. Esta evolução reflete os avanços sociais e culturais do nosso tempo, exigindo claramente uma reavaliação crítica e muito necessária dos modelos de liderança tradicionais. Estes modelos, adaptados ao longo de muitas gerações e criados para uma força de trabalho cada vez mais homogénea, enfrentam agora o desafio de se adaptarem a à realidade atual.

Esta mudança celebra o progresso social e redefine as expectativas sobre a liderança e a dinâmica de poder nas organizações.

A maior presença de mulheres e de minorias nos cargos de liderança, desafia estereótipos e os preconceitos enraizados, expressando a necessidade de uma liderança que valorize e tire proveito da diversidade como recurso para a inovação, criatividade e para a resiliência organizacional.

 

 

Desconstrução de Estilos de Liderança de Género

 

A análise histórica dos estilos de liderança demonstra uma codificação profundamente enraizada nas distinções de género, onde os atributos como a assertividade e a autoridade são vinculados à liderança masculina, enquanto a empatia e a cooperação são vistas como marcas da liderança feminina.

Esta dicotomia, além de simplista, não reflete a complexidade e a riqueza das nossas capacidades como seres humanos pois, a verdadeira eficácia de um líder não está confinada à adesão a estereótipos, mas sim, na habilidade para integrar e harmonizar um espectro maior de qualidades, ultrapassando os limites tradicionalmente impostos pelo género.

Existe, portanto, a necessidade do desenvolvimento de um novo paradigma de liderança que reconheça e que valorize a diversidade de competências e de perspectivas, independentemente das origens ou de género. Este é um desafio que requer uma desconstrução muito cuidadosa dos moldes tradicionais de liderança, favorecendo um modelo mais inclusivo e representativo da pluralidade humana. Ao questionar e, eventualmente, desmantelar os estereótipos de género associados à liderança, abrem-se diversos caminhos para a valorização de um vasto leque de habilidades e de abordagens, enriquecendo assim o tecido das organizações e elevando o potencial para inovação e para obtenção do sucesso.

Estimular uma liderança apoiada na diversidade de competências e na inclusão de perspectivas diversas não é uma questão de equidade ou de justiça social, mas uma estratégia fundamental para o fortalecimento e para a sustentabilidade organizacional.

Integrar estilos de liderança que abracem e equilibrem as qualidades tradicionalmente vistas como masculinas e/ou femininas reflete uma compreensão profunda e integrada do significado de liderança atual, onde a adaptabilidade, a empatia e a colaboração são tão essenciais como a assertividade e a autoridade.

 

 

Adotar Estilos de Liderança Inclusivos

 

É imperativo que os estilos de liderança adotados façam espelho à adaptabilidade e a uma abertura genuína às necessidades e ao potencial de cada membro das equipas de trabalho.

Os líderes inclusivos destacam-se pelo reconhecimento da diversidade como uma importante força e também pela sua dedicação em cultivar um ambiente organizacional onde a valorização de cada indivíduo seja palpável, e onde todos tenham a oportunidade para contribuir de forma significativa.

Este é um paradigma de liderança que exige uma sensibilidade aguçada face às dinâmicas interpessoais e a compreensão profunda das diversas realidades que constituem o tecido organizacional. Assim, os líderes são capazes de derrubar barreiras à participação plena, criando um espaço propicio para a inovação, a criatividade e o compromisso. Para se alcançar esse importante objetivo, é essencial a implementação de práticas de liderança baseadas no diálogo aberto, na empatia e no respeito mútuo, o que inclui a criação de canais de comunicação que façam garantia de que todas as vozes sejam ouvidas, assim como a promoção de uma cultura de feedback positivo, onde o reconhecimento e o encorajamento sejam uma constante. Adicionalmente, a adoção de estilos de liderança inclusivos passa também pela promoção ativa de oportunidades de desenvolvimento profissional igualitárias, permitindo que todos os membros das equipas, independentemente da sua origem, género ou qualquer outra característica, tenham a oportunidade para crescer, evoluir e para assumir posições de destaque. Através de iniciativas de mentoria, treino e de programas de desenvolvimento de liderança, as organizações podem garantir que a inclusão seja uma realidade vivida, não um ideal.

 

 

Impacto nos Resultados Organizacionais

 

As organizações empenhadas no cultivo de estilos de liderança caracterizados pela flexibilidade e pela inclusividade alcançam maior satisfação e envolvimento entre todos os seus colaboradores e também são distinguidos pela capacidade acentuada para a inovação e pelos resultados financeiros superiores.

Esta é uma evidência que destaca a importância no aspeto em que a inclusão não está restringida a uma questão meramente ética ou do cumprimento de quotas representativas. Ela constitui, na sua essência, uma estratégia para a obtenção de vantagem competitiva. As empresas lideradas por gestores que valorizam a diversidade e que promovem ativamente a participação de todos os membros das suas equipas nos processos de decisão, demonstram uma agilidade e uma capacidade de adaptação notáveis face às dinâmicas do mercado atual. Organizações com estas características são naturalmente reconhecidas pelo clima organizacional pautado pela confiança mútua e pela abertura à partilha de ideias, onde o medo do erro é substituído pela celebração da experimentação e da aprendizagem contínua. Este ambiente, facilita as soluções criativas e disruptivas, que muitas vezes se traduzem em novos produtos, serviços ou modelos de negócio que respondem de forma altamente eficaz às necessidades e desejos dos consumidores.

Do ponto de vista do desempenho financeiro, a adoção de práticas de liderança inclusiva tem vindo a ser associada a uma superior performance empresarial. Diversos estudos sugerem que empresas as que promovem ativamente a diversidade e a inclusão, registam índices de rentabilidade e valor de mercado mais elevados e possuem uma maior capacidade para atração e retenção de talentos, um fator verdadeiramente crítico para a sustentabilidade do sucesso a longo prazo.

Por fim, a liderança inclusiva contribui de forma significativa para o reforço da imagem e da reputação corporativa. As organizações reconhecidas pelas práticas de gestão inclusivas e responsáveis socialmente gozam de maior estima por parte dos clientes, parceiros e de investidores, consolidando assim a sua posição no mercado.

 

 

Educação e Formação como Ferramentas para a Mudança

 

A adoção de estilos de liderança que sejam ao mesmo tempo inclusivos e adaptáveis passa inevitavelmente pelo investimento constante em processos de educação e de formação. Programas muito bem desenhados com o intuito de incentivo ao desenvolvimento de competências de liderança inclusiva, assumem importância capital à preparação de líderes totalmente aptos a enfrentar e a vicejar perante a intricada complexidade do ambiente corporativo atual.

A necessidade de capacitar os líderes através de educação e da formação como estratégia fundamental, abrange desde a compreensão profunda dos benefícios da diversidade e da inclusão até à aquisição de ferramentas práticas que permitam cultivar ambientes de trabalho onde cada indivíduo se sinta valorizado, respeitado e integralmente envolvido. Os programas de formação eficazes devem, portanto, incluir módulos que abordem importantes temáticas como a comunicação empática, a gestão de conflitos na perspetiva inclusiva, a promoção da igualdade e o combate ao viés inconsciente. Através da participação em workshops, seminários e módulos de aprendizagem online, os líderes atuais e os futuros líderes podem desenvolver uma apreciação mais rica sobre como as suas ações e as suas decisões influenciam a dinâmica e a moral das suas equipas.

A formação em liderança inclusiva deve encorajar os participantes à reflexão sobre os seus próprios estilos de liderança, identificando áreas para melhoria e explorando novas abordagens que façam resposta às necessidades de uma força de trabalho diversificada. Esta é uma viagem de autoconhecimento e de desenvolvimento, enriquecida através da partilha de experiências e da interação com colegas, que permite uma troca importante de perspectivas e de soluções.

Importa igualmente salientar o papel fundamental da mentoria no desenvolvimento de líderes inclusivos. Os programas de mentoria, ao promoverem fortes relações de apoio entre os líderes experientes e os emergentes, podem oferecer a orientação personalizada, o feedback construtivo e o incentivo, indispensáveis ao cultivo de competências de liderança eficazes e compassivas.

 

 

Líderes que Dominam o Jogo

 

Aqui estão alguns exemplos de liderança inclusiva e de transformação organizacional:

 

VF Corporation: A VF Corporation, conhecida por marcas como Vans e North Face, passou por uma transformação focada na criação de valor. No início dos anos 2000, a empresa tinha um crescimento limitado e segmentos de baixa margem de lucro. Com a ajuda da Boston Consulting Group, a VF reestruturou o seu portfólio, baixando o investimento em linhas de produtos de baixo crescimento e adquirindo marcas de maior crescimento e margem, o que resultou num aumento significativo de valor para os investidores e uma mudança na composição do portfólio da empresa.

 

Satya Nadella na Microsoft: Sob a liderança de Satya Nadella, a Microsoft adotou uma cultura de aprendizagem, empatia e inovação. Esta mudança cultural teve um impacto significativo no valor de mercado da empresa e no desenvolvimento de produtos. Nadella focou na importância da empatia no local de trabalho e isso refletiu-se numa capacidade de colaboração mais forte e numa maior moral entre os funcionários.

 

Organizações sem fins lucrativos e igualdade de género: Muitas organizações sem fins lucrativos estão a trabalhar ativamente para combater a desigualdade de género dentro das suas estruturas. Por exemplo, a GlobalGiving apoia organizações que aceleram a igualdade de género em todo o mundo, ajudando mulheres e meninas a superar barreiras e construir futuros brilhantes através de educação e da liderança.

 

Empatia na Cultura Empresarial: Várias pesquisas mostram que os locais de trabalho empáticos tendem a desfrutar de uma colaboração mais forte, menos stress e maior moral. Os líderes que lutam para tornar o cuidado parte da sua cultura organizacional podem beneficiar de normas sociais que promovam a empatia, como por exemplo reconhecimento e incentivos.

 

Estes são casos reais que demonstram que a liderança inclusiva e a transformação organizacional são imperativos éticos e estratégias empresariais que podem levar a resultados financeiros e operacionais superiores. Realizamos, portanto, que os líderes e as organizações que adotam estes princípios estão a criar o caminho para um futuro mais equitativo e produtivo.

 

 

Liderança para o Futuro

 

Fundamentalmente, a liderança no contexto atual e futuro, exige a abertura para a mudança, a apreciação pela diversidade e o compromisso com a inclusão.

À medida que avanço nesta série de artigos, reitero a importância de uma liderança que se adapte, aprenda e cresça com a sua força de trabalho pois, a liderança do futuro é aquela que reconhece o valor de cada indivíduo, que aproveita a diversidade como uma força e que vê a inclusão não como desafio, mas como uma grande oportunidade para inovar e crescer.

 

Com a compreensão de que o sucesso e a sustentabilidade organizacional no século XXI estão intrinsecamente ligados à capacidade de liderar com inclusão e adaptabilidade, convido cada leitor a participar nesta jornada de transformação.

Através da adoção de estilos de liderança que abracem a diversidade e que promovam a igualdade, podemos todos contribuir para um futuro corporativo verdadeiramente equitativo e próspero.



Referências:

  1. Alcaraz, K., & Minnick, K. (2020). The Nonprofit Gender Leadership Gap: Data-Driven Systemic and Inclusive. Universidade de São Francisco. https://bpb-us-w2.wpmucdn.com/usfblogs.usfca.edu/dist/9/244/files/2020/08/alcarazminnickkatya_6191971_66676612_KAM-2020-Report-_The-Gender-Leadership-Gap.pdf

  2. Boston Consulting Group. (2014). Five Case Studies of Transformation Excellence. https://www.bcg.com/publications/2014/transformation-change-management-five-case-studies-transformation-excellence

  3. Built In. (s.d.). Inclusive Leadership: What It Is & Examples to Know. https://builtin.com/diversity-inclusion/inclusive-leadership

  4. Candid Blog. (s.d.). Gender inequity culture in the nonprofit sector. https://blog.candid.org/post/the-great-restructure-gender-inequity-culture-in-the-nonprofit-sector/

  5. CIPD. (s.d.). Transformational Change with Case Studies. https://www.cipd.org/uk/knowledge/reports/change-theory-practice-report/

  6. GlobalGiving. (s.d.). Meet 8 Nonprofits Accelerating Gender Equality Around The World. https://www.globalgiving.org/learn/nonprofits-gender-equality-2020-girl-fund

  7. Hall, A. (s.d.). The Power of Empathy in Leadership: Creating a Culture of Understanding. https://aaronhall.com/insights/the-power-of-empathy-in-leadership-creating-a-culture-of-understanding/

  8. Harvard Business Review. (2019a). Making Empathy Central to Your Company Culture. https://hbr.org/2019/05/making-empathy-central-to-your-company-culture

  9. Harvard Business Review. (2019b). The Top 20 Business Transformations of the Last Decade. https://hbr.org/2019/09/the-top-20-business-transformations-of-the-last-decade

  10. Howspace. (s.d.). 7 real-life organizational change examples & best practices. https://howspace.com/blog/organizational-change-examples-and-best-practices/

  11. IMD. (s.d.). Everything you need to know about Inclusive Leadership. https://www.imd.org/reflections/how-to-be-an-inclusive-leader/

  12. Maven. (s.d.). How Empathetic Leadership Can Transform the Workplace and Drive. https://maven.com/articles/benefits-empathetic-leadership

  13. Medium. (s.d.). Empathy in Leadership: Building Stronger Teams and Organizations. https://medium.com/@elmad_65470/empathy-in-leadership-building-stronger-teams-and-organizations-b4c01af1e77d

  14. MentorCruise. (s.d.). The Power of Empathy in Leadership: Fostering Connection, Collaboration, and Success. https://mentorcruise.com/blog/the-power-of-empathy-in-leadership-fostering-connection-collaboration-and-success/

  15. Oxfam. (s.d.). TRANSFORMATIVE LEADERSHIP FOR WOMEN’S RIGHTS. https://d1tn3vj7xz9fdh.cloudfront.net/s3fs-public/file_attachments/transformative-leadership-womens-rights-oxfam-guide.pdf

  16. Short Case Study on Change Management. (s.d.). 5 Examples - CMI. https://changemanagementinsight.com/short-case-study-on-change-management/

  17. Spiceworks. (s.d.). 6 Examples of Inclusive Leadership from Around the Globe. https://www.spiceworks.com/hr/workforce-management/articles/inclusive-leadership-example-salesforce-google-facebook/

  18. UN Women. (s.d.). Transformative Leadership: Leading for Gender Equality and Women’s Rights. https://portal.trainingcentre.unwomen.org/product/transformative-leadership-leading-for-gender-equality-and-womens-rights/

  19. World Economic Forum. (2023). 12 top leaders share how to achieve inclusive leadership. https://www.weforum.org/agenda/2023/10/redefining-leadership-embracing-inclusivity-and-accessibility/

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