Receber feedback requer sensibilidade, abertura e um forte sentido de autocrítica.
Seja no universo pessoal ou profissional, o feedback não se resume a uma simples troca de informações. É sim, um mecanismo necessário para o crescimento e a aprendizagem, cuja eficácia depende profundamente da habilidade da receção e do processamento por parte daquele que o recebe. As pessoas, quando confrontadas com o feedback, vivem uma série de reações emocionais adversas que podem variar desde a negação até à hostilidade, passando pela auto-justificação. Reações destas, são por vezes instintivas e, podem ser atribuídas a uma variedade de fatores, incluindo, mas não estando limitadas a, baixa auto-estima, à identificação excessiva com o trabalho, ou mesmo a uma falta de familiaridade com a cultura de feedback positivo. De forma a ultrapassar estas barreiras emocionais, é fundamental desenvolver a capacidade de crescimento, olhando o feedback como uma fantástica oportunidade de melhoria pessoal e profissional.
A escuta ativa é fundamental ao acto de receber feedback. Não se trata simplesmente de ouvir o que é dito, mas sim, de uma compreensão profunda da mensagem, de uma interpretação atenta das intenções subjacentes e do compromisso para com a reflexão e a ação. Para praticar a escuta ativa, o receptor do feedback deve adotar uma postura de abertura, eliminando ativamente preconceitos e evitando formular respostas precipitadas. É, de máxima importância manter o contato visual, acenar com a cabeça e colocar questões clarificadoras, demonstrando assim o respeito e o apreço necessários pelo feedback fornecido. Para isto, deve ser criado um ambiente propício que se caracterize por uma cultura de confiança e de respeito mútuo, onde a partilha de feedback seja percebida como uma rotina totalmente normal e altamente benéfica. É, da mesma forma importante que tanto o emissor como o receptor do feedback partilhem uma compreensão comum dos objetivos e das expectativas associadas à sua troca e para isso, a implementação de sessões regulares de feedback, acompanhadas de diretrizes claras e objetivas, pode facilitar este processo, tornando-o mais transparente e menos assustador.
Alcançar a mestria na arte de receber feedback é muito mais do que simplesmente ouvir e aceitar passivamente. Requer a capacidade de solicitar feedback de forma proativa, de explorar as questões levantadas e de implementar mudanças comportamentais e estratégicas, como resposta. Só assim será possível demonstrar um compromisso genuíno para com o desenvolvimento pessoal e profissional e promover uma cultura de melhoria contínua. Não menos importante, é reconhecer que saber receber feedback de uma forma positiva e eficaz é um processo dinâmico que requer dedicação constante à auto-reflexão, à humildade e ao aperfeiçoamento próprio.
A primeira reação ao feedback, especialmente quando percebido como negativo, é defensiva e com ela, podem surgir sentimentos de frustração, negação ou até mesmo de raiva. Portanto, saber reconhecer e lidar com estas emoções é essencial. Devemos ter a capacidade de sentir, mas não deixar sermos dominados por essas emoções. É necessário refletir sobre os comentários de forma objetiva e separar as emoções da mensagem central.
O feedback não é um ataque pessoal, mas sim um ponto de vista e uma chamada de atenção, para nos auxiliar no processo de crescimento.
É comum que a receção de feedback, particularmente aquele que é percebido como negativo, dê início uma variedade de respostas emocionais que podem incluir sentimentos de frustração, negação, raiva ou até mesmo de tristeza. Esta reação inicial é naturalmente baseada em mecanismos de defesa pessoais e em padrões de comportamento estabelecidos, que refletem uma resistência natural à mudança e à atitude de questionar a nossa identidade ou o nosso desempenho. É precisamente aqui, que se situa o o desafio, na capacidade de assimilar estas respostas instintivas e de abordar o feedback como uma perspetiva construtiva.
Após a identificação e aceitação das emoções, é necessário refletir. O que isto significa, é que devemos realizar uma análise ponderada dos comentários, com o objetivo de identificar os elementos de verdade e as potenciais áreas para melhoria. É recomendável organizar o feedback por categorias ou temas, facilitando uma análise sistemática e mais abrangente.
O feedback construtivo tem uma natureza muito específica, naturalmente orientada para a ação e fundamentada em exemplos ou em situações concretas. Este tipo de feedback oferece importante conhecimento, oferecendo uma base sólida para o desenvolvimento de estratégias de melhoria. De forma inversa, os comentários vagos, desprovidos de exemplos concretos ou motivados por sentimentos pessoais, podem não oferecer esse mesmo valor. Assim, o receptor do feedback deve realizar juízo crítico, separando as observações objetivas e úteis das que podem ser influenciadas por fatores subjetivos ou interpessoais.
Para ser possível realizar uma análise eficaz, é importante adotarmos uma postura de abertura e de desapego. A defesa imediata ou a negação podem obstruir a compreensão e a aceitação de críticas válidas. Devemos, portanto, olhar para o feedback como uma oportunidade de aprendizagem, independentemente da sua natureza positiva ou negativa. Para além disso, a reflexão sobre o feedback deve ser acompanhada pela consideração do contexto em que os comentários foram feitos. Sermos capazes de compreender as circunstâncias específicas, os objetivos e as expectativas do interlocutor pode proporcionar uma perspectiva adicional, enriquecendo a nossa análise e ajudando a discernir a intenção por detrás das palavras. Após a análise e reflexão, o passo seguinte é a elaboração de um plano de ação concreto que deve visar a melhoria contínua, estabelecendo objetivos específicos, mensuráveis e rigorosamente definidos no tempo.
Traduzir o feedback em ações tangíveis demonstra claramente o compromisso com o desenvolvimento pessoal e profissional e incita a um ciclo virtuoso de feedback e de melhoria contínua.
Continuando esta reflexão, realizo que a presença de padrões recorrentes no feedback, especialmente quando provenientes fontes várias, oferece-nos um indicador fiável das áreas que requerem especial atenção e rápida e assertiva intervenção. Este processo, embora necessite claro, de uma análise meticulosa e de espírito crítico, é fundamental para a compreensão clara do próprio desempenho e para a definição de estratégias eficazes de desenvolvimento.
Esses temas consistentes podem manifestar-se de diversas formas, abrangendo desde competências técnicas específicas, como a proficiência em ferramentas ou plataformas específicas, até às competências interpessoais, como por exemplo a capacidade de comunicação, de liderança, ou a dinâmica de trabalho em equipa. A repetição de determinadas observações ou críticas serve, portanto, como um sinal de que essas áreas são percebidas de forma consistente como pontos de fraqueza ou de forte potencial.
Para realizarmos este exercício de identificação de forma efetiva, podemos organizar o feedback recebido de uma forma sistemática, categorizando os comentários de acordo com áreas temáticas. Esta organização pode ser feita através de uma simples lista, de uma tabela, ou até mesmo realizando um mapa mental, dependendo da preferência individual e da complexidade do feedback recebido. Esta estruturação ajuda a facilitar a visualização de padrões recorrentes e a distinguir entre o que são críticas pontuais e as questões mais profundas e persistentes.
A tendência natural para imediatamente nos defendermos, pode obscurecer a percepção de padrões importantes e impedir a receção plena do feedback. Por isso, é tão importante manter uma atitude de humildade e a disposição para a aprendizagem, olhando para o feedback que recebemos, não como um julgamento, mas como uma oportunidade para crescimento.
Caríssimos, nem todo feedback que recebemos é útil ou destinado ao nosso crescimento.
Algumas críticas podem ser influenciadas por opiniões pessoais, por diferentes experiências ou por mal-entendidos. Devemos aprender a separar o feedback construtivo, que nos apresenta uma verdadeira e sólida base para a melhoria, do que é estritamente pessoal e sem fundamentação objetiva. Para isso, devemos questionar a nós mesmos acerca da validade e da aplicabilidade do feedback através, por exemplo, das perguntas: “Isto é algo que eu posso mudar ou melhorar?”, “Isso está alinhado com os meus objetivos pessoais e profissionais?”. Devemos manter a mente aberta, mas também sentido crítico para discernir o feedback que é realmente valioso e aplicável ao nosso crescimento.
Esta distinção não só garante que os esforços de melhoria sejam direcionados de forma eficiente e eficaz, mas também protege a nossa integridade e a autoestima.
Outra estratégia muito útil é a procura de opiniões secundárias através da conversa com colegas de confiança ou com mentores sobre o feedback recebido. Esta atitude pode proporcionar novas perspectivas e ajudar a distinguir entre as críticas construtivas e as pessoais. Este diálogo pode revelar consensos ou significativas divergências, contribuindo assim para a compreensão profunda da validade e da relevância desse feedback.
Transitar do feedback para a ação é uma etapa decisiva neste ciclo de aperfeiçoamento pessoal e profissional.
A capacidade para convertermos as críticas e as sugestões recebidas em objetivos claros e em estratégias de implementação, demonstra a nossa maturidade profissional e pessoal. Não só isso como também é o coração do desenvolvimento contínuo pois, contas feitas, sem a aplicação prática, o feedback corre o risco de se tornar um exercício meramente teórico.
O primeiro passo para transformar o feedback em ação é, portanto, a definição de objetivos claros e tangíveis. Estes objetivos devem ser diretamente influenciados pelas áreas de melhoria identificadas durante a análise do feedback recebido. É fundamental que sejam específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais (critérios SMART).
Utilizar o modelo SMART (Específicos, Mensuráveis, Alcançáveis, Relevantes e Temporais) na formulação destes objetivos proporciona uma estrutura clara que facilita a tradução das críticas abstratas em ações concretas e orientadas.
Específicos: Os objetivos devem ser claros e diretos, estando focados em áreas específicas para a melhoria. Deve ser evidente o que é pretendido alcançar. Por exemplo, se o feedback recebido aponta para uma necessidade de melhoria nas habilidades de comunicação, um objetivo específico poderia ser “Desenvolver habilidades de apresentação pública”.
Mensuráveis: Para que um objetivo seja verdadeiramente eficaz, deve ser possível medir o seu progresso na direção à realização. Isto requer o estabelecimento de critérios claros para a medição do sucesso. No caso do desenvolvimento de habilidades de apresentação pública, o critério mensurável poderia ser “Realizar uma apresentação sem recorrer a notas e receber um feedback positivo de pelo menos 75% dos colegas”.
Alcançáveis: Os objetivos devem ser realistas e alcançáveis dentro do contexto e dos recursos disponíveis, o que não significa que não devam ser desafiantes mas que sejam, no entanto, não tão ambiciosos ao ponto de se tornarem inatingíveis. Por exemplo, a participação num workshop de comunicação reconhecido dentro de um trimestre é um objetivo alcançável que proporciona um prazo realista para a organização e para a preparação.
Relevantes: Os objetivos devem estar alinhados para com as necessidades de desenvolvimento identificadas no feedback e devem ser pertinentes para o crescimento pessoal e profissional da pessoa. No que diz respeito à melhoria das habilidades de comunicação, o objetivo deve contribuir de forma significativa para o desenvolvimento nesta área.
Temporais: Definir um prazo para a realização dos objetivos é fundamental, pois cria um sentido de urgência e permite o planeamento adequado das ações necessárias. Para o exemplo que usamos, estabelecer “até o final do trimestre” como limite temporal oferece uma janela de tempo clara para a concretização do objetivo.
Ao transformar o feedback abstrato em objetivos SMART, estamos a criar uma rota clara de ação que não só orienta o foco para as áreas que necessitam de atenção, mas que também fornece uma estrutura para a avaliação do progresso. O que por sua vez, facilita uma abordagem metódica e não tão emotiva ao desenvolvimento pessoal e profissional, fazendo garantia de que o feedback recebido seja utilizado de forma produtiva e eficaz. Assim, a transição do feedback para objetivos concretos torna-se um elemento-chave para o processo de melhoria contínua, permitindo que as críticas sejam convertidas em oportunidades para crescimento e desenvolvimento.
É notável como a essência da abertura ao feedback se constrói de forma tão intima nos dois âmbitos da vida. Na esfera pessoal, as experiências, os desafios e as aprendizagens vão traçando o nosso caráter, a nossa resiliência e a nossa capacidade para introspecção. No plano profissional, essas mesmas qualidades são refletidas na forma em como abordamos as tarefas, interações e, fundamentalmente, o feedback.
O percurso da vida ensina-nos que a mudança é constante e que a adaptação não é apenas uma necessidade, mas uma enorme oportunidade para crescimento. Da mesma forma, no ambiente profissional, a capacidade para receber, processar e agir com base no feedback é um claro indicativo de maturidade e de abertura à evolução contínua. Este princípio faz espelho com a minha própria viagem pessoal, onde cada desafio enfrentado e superado foi, e é, muito mais do que apenas uma lição, mas uma alavanca para o meu crescimento pessoal e profissional.
A implementação prática desta noção, através da formulação de objetivos SMART e da adoção de uma postura proativa perante o feedback, acrescenta valor à simples correção de falhas. Transforma-se num processo dinâmico de conhecimento próprio, de adaptação e inovação constante. Este ciclo virtuoso de feedback e respetiva ação corretiva reflete o compromisso com a melhoria pessoal e é também uma contribuição importante para a cultura e para o sucesso das organizações como um todo.
Assim, ao integrar as lições aprendidas com o feedback no meu desenvolvimento profissional, reconheço que a abertura para receber e utilizar o feedback construtivo, a capacidade de aprender com diversos pontos de vista e a disposição para me adaptar e evoluir são extensões da minha caminhada pessoal e dos valores que a orientam.
O caminho para a criação de uma cultura de alto desempenho, tanto a título individual como organizacional, é construído sobre a fundação da abertura ao feedback, da comunicação clara e do compromisso constante com o crescimento e a melhoria.
Ao olharmos cada feedback recebido como um ponto de partida para o desenvolvimento, abraçamos plenamente a oportunidade de transformar os desafios que se apresentam em degraus para o sucesso. Assim, cada passo realizado no sentido da reflexão, da adaptação e da imediata ação, contribui para o fortalecimento de um ambiente de trabalho mais resiliente, colaborativo e propício à excelência.
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