top of page

Estratégias para uma Liderança Transformadora e para a Inovação




No artigo de hoje realizo uma reflexão sobre como a adoção de certas identidades tem a capacidade de potenciar a motivação, o compromisso e a eficácia das ações em variadíssimos contextos, desde as salas de reunião até às iniciativas globais, argumentando assim que o desenvolvimento de uma identidade firmemente alinhada com as metas profissionais e pessoais pode ser a resposta mais eficaz para uma liderança que seja genuinamente transformadora. Assim, o foco deste estudo é a identificação dos elementos que definem a liderança eficaz, a inovação disruptiva e entender como as pessoas podem, através do reforço e reconhecimento das suas identidades, catalisar mudanças verdadeiramente significativas nos seus ambientes de trabalho e, por extensão, nas suas vidas pessoais.


Vou explorar esta dinâmica através de uma análise de estudos recentes e de teorias fundamentais, proporcionando desta forma um panorama teórico e orientações úteis e práticas para aqueles que aspiram a liderar com a autenticidade e a eficácia cada vez mais exigidas no mundo atual em que vivemos.


Um mundo em contínua transformação.

 

 

A Importância da Identidade na Motivação das Ações

 

Um estudo conduzido por investigadores da Universidade de Stanford trouxe à luz o tremendo impacto das identidades na motivação comportamental.


Como sempre, deixo informações para poderem verificar as fontes que explorei, no fim deste texto - capítulo de referências.


Nesta experiência, foram criados dois grupos de crianças, a quem foi solicitado que ajudassem a limpar uma sala de aula desordenada.

Ao primeiro grupo foi questionado, "Podes ajudar a limpar?", enquanto que ao segundo grupo foi perguntado, "Podes ser um ajudante na limpeza?". Os resultados mostraram que as crianças no segundo grupo foram 30% mais propensas a participar na tarefa.

Esse estudo ilustra a forma em como a adoção de uma identidade positiva — neste caso, a de "ajudante" — pode aumentar de modo significativo a vontade para agir.

Este é um conceito muito importante para os ambientes corporativos, onde a forma como as tarefas são comunicadas pode influenciar diretamente o interesse e a produtividade dos colaboradores.


É importante notar que as identidades podem criar resistência à mudança e viés no processamento de novas informações. As crenças associadas a identidades de longa data podem resistir à mudança e influenciar a forma como as pessoas avaliam e interpretam novas informações.

 

 

Reenquadramento da Ação para o Sucesso


A forma como as ações são propostas pode ter um impacto profundo na resposta e no envolvimento das pessoas. Dentro do universo organizacional, reformular um pedido de uma forma que associe a tarefa em causa, a uma identidade positiva, pode ser particularmente eficaz. Como exemplo, ao invés de solicitar "Podes liderar este projeto?", reformular a questão como "Podes ser um líder neste projeto?" pode motivar uma resposta mais entusiástica e um compromisso mais firme. Este reenquadramento eleva a percepção da tarefa e reforça a autoimagem do indivíduo como alguém capaz e digno de responsabilidade. A pesquisa indica que as pessoas demonstram a tendência de a comportarem-se de maneira consistente com as identidades que aceitam para si mesmas, o que sugere que ao apresentar as tarefas como oportunidades para validação ou o desenvolvimento de uma identidade desejável, os líderes podem aumentar de forma efetiva o compromisso e a performance.


Este princípio é transversal a todas as formas de liderança e gestão, uma vez que entender e aplicar o poder das identidades na motivação pode transformar as práticas organizacionais e conduzir a resultados mais positivos. Para além disso, ao cultivar um ambiente onde os colaboradores se sintam valorizados não só pelas suas competências, mas também pela capacidade de personificar valores e papéis positivos, as organizações podem promover um forte sentido de propósito e de pertença, factores que são essenciais para a obtenção de sucesso a longo prazo. Devemos notar também que a reformulação positiva e a análise de evidências, são duas formas de reavaliação cognitiva particularmente eficazes. A reformulação positiva abrange o pensamento sobre uma situação negativa ou desafiante de uma forma positiva e requer pensar sobre um benefício ou vantagem de uma situação negativa que não havia sido considerada anteriormente e a análise de evidências engloba pesar devidamente as evidências para a interpretação de uma situação.

 

 

Consequências da Inação

 

De forma mais frequente do que deveria, os efeitos negativos da inatividade são altamente subestimados nas nossas decisões diárias, seja no contexto pessoal ou profissional. Estes custos, embora menos tangíveis e imediatos, podem superar largamente os riscos associados à ação.


A inatividade pode levar a arrependimento profundo e a oportunidades irrecuperáveis, especialmente no que diz respeito aos ambientes em rápida mudança, onde a capacidade para agir prontamente pode determinar o sucesso ou o fracasso. A inatividade pode também resultar na deterioração de habilidades, na perda de vantagens competitivas e na estagnação do crescimento pessoal e organizacional. Esta situação reflete-se através da perda de ganhos potenciais, e no custo das oportunidades nunca exploradas.


A análise destes custos deve assim, incluir uma avaliação detalhada e completa dos efeitos a longo prazo da inatividade, que muitas vezes revelam ser substancialmente mais prejudiciais do que os riscos imediatos da ação. Como exemplo, a análise publicada no Lancet estimou que o custo mundial da inatividade física para os sistemas de saúde foi de $53.8 biliões no ano de 2013 e as mortes relacionadas com a inatividade física foram responsáveis por $13.7 biliões em produtividade perdida e 13.4 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade.


É, portanto, fundamental considerarmos muito bem todos os custos associados à inatividade e rapidamente implementar estratégias para a promoção da atividade e o envolvimento, tanto a nível pessoal como organizacional.

 

 

O Arrependimento e a Importância da Ação


A inação desencadeia um ciclo de "será que", ou melhor, uma série de especulações sobre o que poderia ter acontecido se tivessem sido tomadas outras decisões. Este estado de ruminação negativa alimenta o arrependimento e pode prejudicar o nosso bem-estar emocional, impedindo-nos de alcançar nosso pleno potencial.


O custo psicológico de não agir é um fator negligenciado frequentemente, que leva a um declínio na saúde mental e a um aumento do sentimento de insatisfação pessoal e profissional. De forma a combater esses efeitos negativos, é fundamental cultivar uma atitude de proatividade. Com a adoção de uma postura mais ativa, podemos mitigar os arrependimentos futuros e promover um espírito de resiliência e de inovação.


A proatividade permite que os indivíduos e as organizações antecipem os desafios que se apresentam e consigam assim dar resposta de maneira eficaz, transformando as potenciais ameaças em oportunidades e aprendizagens que acrescentam valor.

A promoção de uma cultura que valorize a ação e o envolvimento ativo é fundamental para o desenvolvimento pessoal e organizacional, conduzindo naturalmente a uma trajetória de crescimento contínuo e de satisfação duradoura. No entanto, é importante notar que o arrependimento é uma emoção importante para a tomada de decisões. Novas pesquisas publicadas na Psychological Science descobriram que a capacidade de observar as alternativas perdidas (em oposição a serem incertas ou desconhecidas) pode reduzir os sentimentos de arrependimento associados às nossas decisões.

 

 

Estratégias para Inovação e Impacto

 

Adotando uma Mentalidade Transformadora


Ao invés de se contentarem com a melhoria contínua de processos ou de produtos existentes, as organizações são incentivadas a pensar sobre como podem revolucionar a indústria, criar novos mercados ou transformar radicalmente as suas operações. Por exemplo, um estudo conduzido por Yeager e Dweck testou uma breve intervenção online de mentalidade de crescimento em mais de 16.000 estudantes do ensino médio nos Estados Unidos. Portanto, a adoção de uma mentalidade transformadora pode ser um poderoso catalisador para a inovação e para a criação de valor, permitindo que as organizações se adaptem e recolham máximo proveito do um ambiente de negócios.

 

 

Inovação Transformadora em Ação


A aplicação de uma mentalidade transformadora pode ser ilustrada através de vários exemplos práticos e de estudos de caso onde as organizações romperam com os padrões tradicionais e alcançaram enorme sucesso. Empresas como a Tesla, no setor automobilístico, e a SpaceX, no campo da exploração espacial, exemplificam como as abordagens disruptivas e inovadoras podem transformar completamente indústrias inteiras e redefinir o que é considerado possível. Estas organizações não se limitaram a fazer melhorias incrementais. Redefiniram e expandiram as fronteiras dos seus respectivos campos. O sucesso dessas empresas demonstra a importância da adoção de uma visão integrada e de longo prazo, onde o objetivo não seja meramente competir no mercado, mas mudar o mercado por completo. Por exemplo, um estudo publicado na revista Science and Public Policy destacou a importância de avaliar e reorientar a experimentação com políticas de inovação transformadora. Outro estudo publicado na revista Sustainability Science destacou a importância do design de projeto como uma oportunidade para apoiar a mudança transformadora.


Por outro lado, a inovação transformadora também pode ser observada em pequenas startups que, com recursos limitados, conseguem introduzir produtos ou serviços que alteram os comportamentos de consumo e estabelecem novos paradigmas de mercado.



O "segredo" para estas inovações é muito mais do que a tecnologia utilizada, mas a visão e a coragem de repensar completamente as soluções tradicionais.


Através de exemplos como estes, fica evidente que a adoção de uma mentalidade transformadora e instrumental é uma atitude completamente viável e necessária para as empresas que procuram ativamente liderar e definir o futuro das indústrias onde operam.

 

 

Impacto da Identidade na Liderança Transformadora

 

Posso atribuir a maior revelação deste estudo à reafirmação da noção que as estratégias para mudanças verdadeiramente transformadoras vão muito para além do simples ajuste de comportamentos ou de um incremento de processos. Exigem uma redefinição da própria essência das identidades que orientam as nossas ações.

A capacidade de uma pessoa em ver-se como um 'ajudante', um 'líder' ou um 'inovador' pode transformar de forma radical a maneira como abordamos as nossas responsabilidades e desafios, infundindo um propósito renovado e vigor às nossas iniciativas. Adicionalmente, a análise da inação e os seus custos revelou-se como um tremendo alerta sobre os perigos da passividade pois a inação não é apenas a ausência de ação, mas uma escolha ativa que pode levar a perdas irrecuperáveis e a um profundo arrependimento. Esta visão reforça a necessidade de uma abordagem proativa, onde a ação seja valorizada como um meio para alcançar fins específicos e como um componente integral de uma identidade dinâmica e adaptativa.

 

Este estudo tenta oferecer um mapa para a compreensão sobre como as identidades podem ser eficazmente alavancadas para impulsionar o desempenho e a inovação e também serve como uma chamada à ação para tods aqueles que procuram liderar com máxima eficácia neste mundo que está em constante transformação.


Os líderes de hoje e de amanhã devem estar dispostos a reorganizar as suas identidades de forma contínua, como forma de resposta às mudanças do mundo ao seu redor, procurando sempre transformar os desafios em oportunidades para crescimento e aprendizagem.





Referências:

  1. Building Habits: The Key to Lasting Behavior Change. Recuperado de https://www.gsb.stanford.edu/insights/building-habits-key-lasting-behavior-change

  2. Cohen, G. L. (n.d.). Identity, Belief, and Bias. Stanford University. Recuperado de https://ed.stanford.edu/sites/default/files/cohen_chap_hanson.pdf

  3. Cognitive Reframing: How It Works, What It Helps, and More. Recuperado de https://www.everydayhealth.com/stress/study-says-heres-how-to-reframe-stress-to-use-it-to-your-advantage/

  4. Cost-Consequences Analysis Following Different Exercise Interventions. Recuperado de https://link.springer.com/article/10.1007/s12603-023-2002-1

  5. Current Directions in Psychological Science - Stanford Graduate School. Recuperado de https://ed.stanford.edu/sites/default/files/identity_belonging_achievement.pdf

  6. Evaluation of the “rethink stress” mindset intervention: A. Recuperado de https://psycnet.apa.org/fulltext/2023-72899-001.html

  7. Evaluating transformative innovation policy in a formative way. Recuperado de https://academic.oup.com/rev/article/32/3/577/7333209

  8. Global cost of physical inactivity is estimated at $67.5bn a year. Recuperado de https://www.bmj.com/content/354/bmj.i4187.full

  9. How to Turn Your Failures into Success with Reframing. Recuperado de https://hogonext.com/how-to-turn-your-failures-into-success-with-reframing/

  10. Making mindset science work in the real world. Recuperado de https://www.apa.org/monitor/2021/04/career-lab-mindset

  11. Physical inactivity: economic costs to NHS clinical commissioning groups. Recuperado de https://assets.publishing.service.gov.uk/media/5a7f6e62e5274a2e87db5cfc/Physical_inactivity_costs_to_CCGs.pdf

  12. Positive Reframing and Examining the Evidence. Recuperado de https://sdlab.fas.harvard.edu/cognitive-reappraisal/positive-reframing-and-examining-evidence

  13. Reframing Effort to Improve Learners’ Study Strategy Choices (Final. Recuperado de https://sites.utexas.edu/psyhonors18/files/2021/12/ConnieFralick_HonorsThesis2021.pdf

  14. Responsive Leaders: Cognitive and Behavioral Reactions to Identity Threats. Recuperado de https://www.gsb.stanford.edu/faculty-research/publications/responsive-leaders-cognitive-behavioral-reactions-identity-threats

  15. The Cost of Inaction on Physical Inactivity to Healthcare Systems - SSRN. Recuperado de https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=4248284

  16. The Psychology of Regret | Psychology Today. Recuperado de https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-mindful-self-express/201205/the-psychology-regret

  17. Transformational innovation, the Global Education Coalition in action. Recuperado de https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000382832

  18. Transformative outcomes: assessing and reorienting experimentation with. Recuperado de https://academic.oup.com/spp/article/48/5/739/6332811

  19. What Characterises an Effective Mindset Intervention in Enhancing. Recuperado de https://www.mdpi.com/2071-1050/14/7/3811

Posts recentes

Ver tudo

Yorumlar


bottom of page