Equilibrar a Tecnologia e a Saúde Mental no Local de Trabalho
- MindsetSucesso
- 1 de jun. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2024

Tenho assistido a uma profunda transformação na forma em como a tecnologia tem permeado todos os aspetos das nossas vidas profissionais.
Se, por um lado, as ferramentas digitais vieram facilitar a comunicação, aumentar a produtividade e permitir uma flexibilidade no trabalho como nunca foi possível até então, por outro lado, trouxeram também significativos problemas para a saúde mental e para o bem-estar dos colaboradores.
O conceito de bem-estar digital que até há pouco tempo era praticamente desconhecido, ganhou uma importância central no universo empresarial Português e, claro, global.
O que é então o bem-estar digital?
Este conceito refere-se ao equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e a preservação da saúde mental e física de uma pessoa. Vivemos num mundo onde uma pessoa estar “ligada”, é a norma. Portanto, é vital que as empresas reconheçam os riscos associados ao uso excessivo da tecnologia e que implementem estratégias para mitigar esses efeitos negativos.
Um estudo realizado pela Harvard T.H. Chan School of Public Health (Bekalu, McCloud, & Viswanath, 2020) demonstra que o uso excessivo de dispositivos digitais pode levar a problemas de saúde mental, incluindo a ansiedade e a depressão. Por outro lado, o uso rotineiro e consciente das redes sociais pode ter efeitos positivos à saúde mental, ajudando a compensar a diminuição das interações sociais presenciais na vida ocupada das pessoas.
Este estudo sugere que a forma como usamos as redes sociais pode ser bem mais importante do que a quantidade de tempo que gastamos nelas.
Na minha experiência como profissional e como consultor empresarial, tenho visto que a implementação de práticas de bem-estar digital começa com a criação de uma cultura organizacional que dê valor ao equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal.
Aqui estão algumas estratégias que considero serem eficazes para a promoção do bem-estar digital no local de trabalho, incluindo adicionalmente exemplos do nosso tecido empresarial português:
1. Estabelecer Limites Claros para o Uso da Tecnologia
A definição de horários específicos para a leitura de e-mails e de mensagens de trabalho pode ajudar os colaboradores a evitarem a sensação de estarem constantemente disponíveis. Promover a ideia de que é saudável “desligar” após o horário de trabalho é um aspeto essencial para manter um equilíbrio saudável e, para também se cumprirem as leis de trabalho.
Empresas como a EDP têm implementado políticas de “desligar” fora do horário de expediente para melhorar a saúde mental dos seus colaboradores, uma medida como realizamos, importantíssima.
2. Promover Pausas Regulares
Incentivar os colaboradores a pausas regulares durante o dia de trabalho é essencial para a redução da fadiga digital. Bastam pausas curtas de 5 a 10 minutos a cada hora para melhorar a capacidade de concentração e de bem-estar geral.
A Sonae tem promovido intervalos regulares para os seus trabalhadores, incentivando algumas práticas de alongamento e pausas ativas.
3. Utilizar Ferramentas de Gestão de Tempo
As ferramentas de gestão de tempo, como o Trello ou Asana, ajudam os colaboradores a organizar o seu trabalho de forma eficiente e a reduzir o tempo gasto em atividades desnecessárias, promovendo assim um equilíbrio saudável entre a produtividade e o descanso. A startup portuguesa Feedzai utiliza estas ferramentas para a otimização da gestão de projetos e para ajudar a manter o foco das suas equipas.
4. Oferecer Programas de Formação em Bem-estar Digital
A formação contínua em bem-estar digital equipar os colaboradores com os conhecimentos necessários para melhor gerir o seu tempo e o uso da tecnologia.
Programas que abordem técnicas de gestão de stress, mindfulness e práticas de descompressão digital são extremamente benéficos.
A Galp Energia oferece workshops regulares de mindfulness e gestão de stress aos seus colaboradores.
5. Criar um Ambiente de Trabalho Saudável
A criação de um ambiente de trabalho que promova o bem-estar, desde a ergonomia dos espaços até ao apoio psicológico e as atividades de bem-estar, contribui para a motivação e para a satisfação dos colaboradores, aspetos que se refletem na produtividade e na qualidade do trabalho.
A Novabase tem investido em ambientes de trabalho ergonómicos e oferece apoio psicológico aos seus colaboradores, de forma a garantir um ambiente de trabalho saudável.
O Futuro
Este conceito, que começou como uma preocupação marginal, tornou-se agora numa das bases onde se sustentam as estratégias de recursos humanos.
Acredito que a adoção de práticas de bem-estar digital é muito mais do que essencial para a saúde mental e física dos colaboradores, é uma estratégia vital para a garantia da competitividade e da inovação das empresas no futuro.
A personalização das estratégias de bem-estar digital será um dos próximos passos críticos para as empresas.
Cada colaborador tem necessidades e preferências únicas e, uma abordagem uniforme simplesmente não será eficaz.
O investimento em ferramentas que permitam a personalização das práticas de bem-estar, adaptando-as aos dados individuais de saúde e às preferências dos colaboradores, vai certamente aumentar de forma significativa o envolvimento e a eficácia desses programas.
As tecnologias emergentes como a inteligência artificial e a análise de big data, estão a transformar a forma como gerimos o bem-estar digital.
A inteligência artificial pode ajudar a monitorizar o bem-estar dos colaboradores de forma contínua e preditiva, identificando rapidamente os sinais de stress e de fadiga antes que se tornem problemas graves. As ferramentas de análise de big data ajudam as empresas a compreender os padrões de uso da tecnologia, permitindo que seja possível ajustar as estratégias de bem-estar de forma precisa e proativa.
Vejo um futuro onde a integração destas tecnologias permite uma abordagem preventiva na gestão do bem-estar digital, promovendo ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos.
A promoção do bem-estar digital deve ser uma responsabilidade partilhada ao longo de toda a organização, começando naturalmente pelos líderes.
A liderança tem um papel fundamental ao dar o exemplo, adotando práticas de bem-estar digital e encorajando os colaboradores a fazerem o mesmo. Uma cultura organizacional que valorize o bem-estar e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal cria um ambiente onde os colaboradores se sentem apoiados e motivados.
Os líderes devem comunicar de forma clara a importância do bem-estar digital e fornecer os recursos necessários para que os colaboradores possam adotar estas práticas.
O investimento contínuo na educação e na formação é outro aspeto essencial ao sucesso das estratégias de bem-estar digital.
As empresas devem oferecer formação regular sobre as melhores práticas de uso da tecnologia, gestão de stress e sobre técnicas de mindfulness. A educação contínua ajuda os colaboradores a estarem atualizados sobre as últimas tendências e ferramentas disponíveis, garantindo que possam fazer escolhas informadas sobre o uso da tecnologia.
A colaboração e partilha de boas práticas com outras organizações são aspetos igualmente fundamentais.
A participação em redes de negócios e fóruns onde as empresas tenham a oportunidade de discutir e analisar as suas abordagens ao bem-estar digital proporciona informações relevantes e claro, novas ideias. Esta colaboração pode levar à implementação de práticas ainda mais eficazes e inovadoras, melhorando e elevando o bem-estar dos colaboradores em toda a indústria.
Olho para o futuro com grande otimismo, vendo o bem-estar digital como um componente essencial da estratégia empresarial moderna.
As empresas que fazem investimento ativo em práticas de bem-estar digital, estão a promover a saúde e a felicidade dos seus colaboradores e também a criar uma importante base para a inovação e para o sucesso sustentável. A adoção de uma abordagem personalizada, a utilização de tecnologias emergentes, a promoção de uma cultura de bem-estar, o investimento na educação contínua e a colaboração com outras organizações são passos fundamentais para avançar neste caminho.
Estou convicto de que as empresas que sejam capazes de liderar este movimento, vão estar na posição ideal para mais facilmente enfrentarem os desafios do futuro e conseguirem capitalizar as oportunidades de negócio de um panorama global cada vez mais digital e interligado.
Referências
Bekalu, M. A., McCloud, R. F., & Viswanath, K. (2020). Associations of social media use with social well-being, positive mental health, and self-rated health: Disentangling routine use from emotional connection to use. Health Education & Behavior, 47(1), 69-80. Harvard T.H. Chan School of Public Health
EDP. (n.d.). https://www.edp.com/pt-pt
Feedzai. (n.d.). https://feedzai.com/
Galp Energia. (n.d.). https://www.galp.com/corp/pt
Harvard Business School. (2020). Digital strategy: A handbook for managing a moving target. Harvard Business School Working Knowledge. https://hbswk.hbs.edu/
Novabase. (n.d.). https://www.novabase.com/
Sonae. (n.d.). https://www.sonae.pt/pt/
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