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Dicotomia entre o 15º Salário e a Necessidade de Reformas Estruturais

Os pedidos de  uma reforma fiscal efetiva e a proposta de um 15º salário em Portugal, livre de impostos, retratam a complexa interação entre as necessidades imediatas e a sustentabilidade fiscal. A proposta de um 15º salário surge como uma medida de alívio à pressão financeira sobre as famílias, especialmente numa altura em que a carga fiscal sobre os salários ascende a uns impressionantes 41,8%, um valor acima da média da OCDE​. Segundo essa proposta, as empresas que declararem lucro poderão distribuir este salário adicional como lucro, aos trabalhadores. Uma distribuição que ficaria totalmente isenta de contribuições para a segurança social e IRS, com o limite máximo de 4.100 euros​. Esta proposta foi apresentada pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP) ao Governo atual, no âmbito de um “Pacto Social” que corresponde a 30 medidas, destacando-se o pagamento voluntário pelas empresas de um 15º mês aos trabalhadores​. No entanto, esta medida, embora proporcione o tão desejado alívio financeiro imediato, não se apresenta como solução estrutural para os desafios fiscais de longo prazo que Portugal enfrenta.

A discussão sobre a reforma fiscal, por outro lado, parece ter o foco no aumento da eficiência do Estado e na reforma da despesa​. O Orçamento do Estado para 2023 propõe uma “atualização dos escalões de Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (IRS) com base no critério da valorização nominal das remunerações por trabalhador”, procurando assim garantir a neutralidade fiscal das atualizações salariais futuras​. Esta abordagem tem o objetivo de manutenção da estabilidade fiscal a longo prazo, fazendo contraste com a natureza pontual e imediatista desse 15º salário. Estas são divergências que refletem o dilema entre o proporcionar de um alívio financeiro imediato às famílias e a promoção de uma estrutura fiscal sustentável e mais justa. O 15º salário, como medida de curto prazo, pode muito bem não ser suficiente para aliviar as pressões fiscais e económicas a longo prazo. Por outro lado, a reforma fiscal proposta, embora seja algo estrutural, requer análise e uma implementação cuidadosa para evitar o agravamento da carga fiscal sobre os cidadãos e as empresas, enquanto se procura otimizar a eficiência dos gastos públicos. Neste âmbito, existe portanto, a necessidade de se realizar uma reforma fiscal efetiva que resulte numa descida efetiva e duradoura da carga fiscal, principalmente sobre o trabalho, o que permanece um objetivo fundamental para alcançar uma maior justiça fiscal e sustentabilidade económica a longo prazo.


Esta análise é demonstrativa do panorama da dicotomia existente entre as medidas de alívio financeiro imediatas e a necessidade premente de  reformas fiscais muito bem estruturadas. A proposta do 15º salário, embora inovadora e alinhada com as necessidades das famílias, poderá ser vista como uma solução paliativa perante os desafios fiscais que Portugal enfrenta no momento. Este tipo de medida poderá também ser interpretada como resposta a uma necessidade premente mas, não oferece uma resolução de longo prazo para as questões fiscais tão difíceis, que assolam a economia lusa. É imperativo ponderar a eficácia e a longevidade das soluções propostas, de forma a assegurar que as respostas de hoje não se transformem nos problemas do amanhã. O equilíbrio entre as medidas imediatas e as reformas, claramente exige uma visão holística,  capaz de responder tanto às necessidades imediatas, como promover um ambiente fiscal justo, transparente e sustentável a longo prazo.


Portugal encontra-se num ponto de inflexão, onde as decisões tomadas hoje vão certamente orientar o futuro fiscal e económico. A procura por soluções que conciliem o alívio financeiro imediato com a sustentabilidade fiscal de longo prazo é, sem dúvida, um exercício difícil e rigoroso que requer uma análise cuidada, um compromisso firme e uma vontade coletiva de avanço na direção a um horizonte fiscal equitativo e sustentável.


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