A crise climática, a erosão da biodiversidade e a exploração excessiva dos recursos naturais são acontecimentos reais que exigem e demonstram a necessidade imperiosa de rever e reformular as práticas e as políticas existentes. Desde a agricultura à produção energética, do planeamento urbano às políticas governamentais, a necessidade de alinhar o progresso humano com a conservação ambiental é clara e evidente.
O compromisso com abordagens realmente sustentáveis já não pode ser limitado a sectores específicos ou considerado como um simples acto simbólico de consciencialização ambiental. Tornou-se um imperativo para a resiliência e para a sustentabilidade a longo prazo das empresas, comunidades e dos países, na generalidade. A integração da sustentabilidade nas estratégias empresariais e no planeamento governamental não é apenas uma questão de responsabilidade ética, mas uma estratégia fundamental que abre portas à inovação, à competitividade e ao desenvolvimento socio-económico sustentável. Adicionalmente, a sensibilização e o envolvimento activo dos cidadãos na gestão dos recursos naturais e na adopção de modos de vida sustentáveis são aspetos indispensáveis para a promoção de uma transformação global. Transitar para uma sociedade que se configure como verdadeiramente sustentável, requer a colaboração de todos - governos, empresas, comunidades e indivíduos.
A inovação tecnológica assume um papel preponderante neste sentido, propondo soluções para a geração de energia limpa, para a eficiência dos recursos, a minimização de resíduos e a conservação da biodiversidade mas, a tecnologia, por si só, não basta. Uma radical mudança rumo à sustentabilidade implica alterações nas políticas, nos modelos de negócio e nas normas culturais, assim como uma revisão dos valores que definem o sucesso e o progresso. A adopção de um modelo de desenvolvimento sustentável representa, assim, um desafio que requer uma abordagem integrada e colaborativa.
A economia circular é um exemplo emergente, favorecendo um ciclo de vida dos materiais que minimiza o desperdício e maximiza o reaproveitamento de recursos. A mudança para este modelo económico reduz o impacto ambiental das actividades e oferece novas oportunidades económicas, impulsionando a inovação e criando empregos sustentáveis. No sector da agricultura, as práticas regenerativas e agro-ecológicas ganham terreno, demonstrando de forma clara que é possível produzir alimentos de uma maneira que beneficie o solo, a biodiversidade e as comunidades locais. O retorno a métodos de cultivo mais sustentáveis e menos dependentes de insumos químicos sintéticos coloca em relevo a importância da soberania alimentar e da resiliência dos sistemas alimentares face às alterações climáticas. Entretanto, no domínio urbano, o conceito das cidades inteligentes e sustentáveis propõe a criação de espaços que ofereçam garantia do bem-estar dos cidadãos, a eficiência dos recursos e a minimização da pegada ecológica. Através da utilização de tecnologias inteligentes, as cidades inteligentes (“smart cities”), visam a optimização do consumo energético até à mobilidade, do tratamento de resíduos e da gestão de águas, promovendo um ambiente urbano harmonioso e sustentável.
A consciência da enorme importância da biodiversidade e dos serviços eco-sistémicos que ela fornece também tem crescido, evidenciando a necessidade de proteger e de restaurar os habitats naturais como forma de combater as alterações climáticas e da preservação da vida na Terra. Os projetos de conservação e de restauração ecológica assumem, desta forma, um papel vital na luta colectiva pela sustentabilidade, mostrando que a proteção do ambiente natural anda de mãos dadas com o bem-estar humano. E, a governança ambiental global, que enfrenta o desafio de promover a cooperação internacional nesta era atual, caracterizada pelos interesses divergentes e por conflitos geopolíticos.
A implementação de acordos ambientais internacionais e o cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas requerem, portanto, um compromisso renovado de todos os actores globais, desde as nações até às empresas e à sociedade civil, para trabalharem em conjunto por um futuro sustentável.
A abordagem dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU incorpora uma visão compreensiva e integral para confrontar os mais prementes desafios globais até ao ano de 2030. Estes objetivos desenham o caminho para a sustentabilidade ambiental e abordam questões fundamentais da pobreza, de educação, da igualdade de género, do trabalho digno e crescimento económico, entre muitos outros. O compromisso com os ODS requer uma séria transformação totalmente abrangente por parte das sociedades, economias e ambientes. O ODS 13, “Acção Climática”, exemplifica a urgência de uma resposta global às alterações climáticas, enquanto o ODS 15, “Vida Terrestre”, expõe a necessidade de proteção, restauro e promoção do uso sustentável dos ecossistemas terrestres.
A criação de uma ponte entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a imperativa necessidade de uma forte aposta nas cidades inteligentes abre um caminho promissor para a sustentabilidade urbana. As cidades inteligentes, com a sua capacidade de integração da tecnologia e de inovação nas estruturas urbanas, representam um modelo vital para alcançar muitos dos ODS, especialmente aqueles relacionados com a sustentabilidade ambiental, a eficiência energética e o bem-estar social. O ODS 11, por exemplo, “Cidades e Comunidades Sustentáveis”, destaca diretamente a importância em tornar as cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. A ideia das cidades inteligentes enquadra-se perfeitamente neste objetivo, promovendo a utilização eficiente de recursos através da tecnologia digital e melhorando a qualidade de vida dos seus habitantes. Através da recolha e da análise de dados, as cidades inteligentes podem optimizar inúmeros aspetos, desde os sistemas de transporte até à gestão de resíduos, reduzindo a pegada de carbono e cultivando uma maior conectividade e acessibilidade. A transição para as cidades inteligentes é de igual forma fundamental para a aceleração da acção climática (ODS 13), visto que permite uma gestão eficaz dos recursos e a implementação de soluções realmente inovadoras, para a redução de emissões. Integrar as energias renováveis nas infraestruturas urbanas, em veículos eléctricos e nos edifícios verdes são exemplos em como as cidades inteligentes podem liderar pelo exemplo na luta contra as alterações climáticas. Adicionalmente, as cidades inteligentes têm o potencial de abordar o ODS 3, “Saúde e Bem-estar”, melhorando assim o acesso aos serviços de saúde através das tecnologias digitais e garantindo que os ambientes urbanos sejam mais limpos e seguros. Implementar sistemas de monitorização da qualidade do ar e ter espaços verdes urbanos conectados são iniciativas que contribuem para um ambiente cada vez mais saudável e para uma comunidade ainda mais coesa. O sucesso destas iniciativas, no entanto, depende de uma governança inclusiva e participativa (ODS 16), garantindo que os benefícios da urbanização inteligente sejam partilhados de forma equitativa. A colaboração entre os governos, o sector privado, a academia e a sociedade civil é fundamental para serem desenvolvidas soluções que façam resposta às necessidades específicas de cada comunidade, garantindo assim que ninguém seja deixado para trás.
Promover os ODS nas políticas públicas e nas estratégias empresariais representa uma oportunidade sem precedentes para possibilitar o alinhamento dos interesses locais com os globais, encorajando a cooperação transnacional e o desenvolvimento de soluções inovadoras para os enormes desafios da sustentabilidade. No entanto, o sucesso deste objetivo requer a participação activa e altamente comprometida da parte de todos os sectores da sociedade. A educação para o desenvolvimento sustentável é fundamental a este processo, capacitando as pessoas e as comunidades com o conhecimento e as competências necessárias para promover o desenvolvimento sustentável. Os ODS oferecem, portanto, um quadro educativo que pode inspirar a próxima geração de líderes e de cidadãos a adoptar práticas sustentáveis em todas as áreas da vida.
À medida que realizamos o caminho rumo a um futuro sustentável, criando fortes raízes nos princípios dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e animados pela promessa das cidades inteligentes, é essencial reconhecer que estamos na linha da frente de uma era verdadeiramente transformadora. Esta não é apenas uma viagem de transformação ambiental, mas uma revolução completa e integral, que abraça a sustentabilidade como o coração vivo da inovação humana, da equidade social e do crescimento económico.
Estamos, coletivamente, diante de uma incrível oportunidade para reimaginar e reconstruir o mundo ao nosso redor, não como herdeiros de práticas do passado, mas como arquitetos de um futuro resiliente.
A transição para cidades inteligentes sustentáveis e a implementação dos ODS não são simples objetivos a cumprir, elas representam um convite à ação coletiva, ao diálogo e à cooperação transfronteiriça.
Faço votos para seja possível, juntos, olharmos para além do horizonte imediato e agirmos não só em benefício próprio, mas em prol de uma comunidade global verdadeiramente interligada e também das futuras gerações que vão herdar o legado das nossas escolhas.
Este é o tempo para uma liderança com audácia, para parcerias inovadoras e para a cidadania global ativa!
Juntos, podemos construir um mundo que celebre a diversidade, promova a justiça social e prospere em harmonia com o ambiente natural.
Acima de tudo, um mundo com uma profunda reverência pela vida em todas as suas formas.
Referências:
Bernardo, M. R. M. (2019). Smart city governance: from e-government to smart governance. Recuperado de https://www.repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/7631
British Ecological Society. (2022). The BES Report on Regenerative Agriculture. Recuperado de https://www.britishecologicalsociety.org/wp-content/uploads/2022/10/BES-Report-on-Regenerative-Agriculture_final.pdf
Circular Economy vs. Linear Economy: Environmental Impacts and Benefits. (n.d.). Recuperado de https://scaleclimateaction.org/climate/circular-economy/circular-economy-vs-linear-economy-environmental-impacts-and-benefits/
Climate Change: How do we know it is happening and caused by humans? (n.d.). BBC. Recuperado de https://www.bbc.co.uk/news/science-environment-58954530
Climate change widespread, rapid, and intensifying – IPCC. (2021). Recuperado de https://www.ipcc.ch/2021/08/09/ar6-wg1-20210809-pr/
Correia, A. F. (2019). Cidades Inteligentes: Contribuição da Governança e das Políticas Públicas para o Território - Uma Reflexão sobre a Cidade do Porto desde 1985. Recuperado de https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/8621/2/DM_26048.pdf
Dincă, G., Milan, A.-A., Andronic, M. L., Pasztori, A.-M., & Dincă, D. (2022). Does Circular Economy Contribute to Smart Cities’ Sustainable Development? International Journal of Environmental Research and Public Health, 19(13), 7627. Recuperado de https://www.mdpi.com/1660-4601/19/13/7627
Effects of Circular Economy Policies on the Environment and - MDPI. (n.d.). Recuperado de https://www.mdpi.com/2071-1050/12/14/5792
Ellen MacArthur Foundation. (n.d.). The circular economy in detail - deep dive. Recuperado de https://ellenmacarthurfoundation.org/the-circular-economy-in-detail-deep-dive/
European Environment Agency. (n.d.). Exploitation of Natural Resources. Recuperado de https://www.eea.europa.eu/publications/92-826-5409-5/page013new.html
Food and Agriculture Organization of the United Nations. (n.d.). Agroecology, regenerative agriculture, and nature-based solutions. Recuperado de https://www.fao.org/family-farming/detail/en/c/1611311/
Food and Agriculture Organization of the United Nations. (n.d.). Overview | Agroecology Knowledge Hub. Recuperado de https://www.fao.org/agroecology/overview/en/
Four innovative clean energy-generating solutions | World Economic Forum. (2023). Recuperado de https://www.weforum.org/agenda/2023/08/four-innovative-clean-energy-solutions/
Genetic erosion reduces biomass temporal stability in wild - Nature. (2023). Recuperado de https://www.nature.com/articles/s41467-023-40104-4.pdf
Global Citizen. (n.d.). 6 of the Most Exploited Natural Resources on Earth. Recuperado de https://www.globalcitizen.org/en/content/6-natural-resources-exploited-on-earth/
Guidelines for Citizen Engagement and the Co-Creation of Nature-Based. (n.d.). Recuperado de https://baes.uc.pt/bitstream/10316/100398/1/Guidelines%20for%20Citizen%20Engagement%20and%20the%20Co-Creation.pdf
Impact of climate change on biodiversity loss: global evidence - Springer. (2021). Recuperado de https://link.springer.com/article/10.1007/s11356-021-15702-8
International Energy Agency. (n.d.). Clean energy technology innovation and the vital role of governments. Recuperado de https://www.iea.org/reports/clean-energy-innovation/clean-energy-technology-innovation-and-the-vital-role-of-governments
International Energy Agency. (n.d.). Technology Innovation to Accelerate Energy Transitions. Recuperado de https://www.iea.org/reports/technology-innovation-to-accelerate-energy-transitions
International Institute for Environment and Development. (n.d.). Strengthening civil society to support natural resource management. Recuperado de https://www.iied.org/strengthening-civil-society-support-natural-resource-management
International Institute for Sustainable Development. (n.d.). The Sustainable Use of Natural Resources: The Governance Challenge. Recuperado de https://www.iisd.org/articles/deep-dive/sustainable-use-natural-resources-governance-challenge
International Journal of Environmental Research and Public Health. (2022). Does Circular Economy Contribute to Smart Cities’ Sustainable Development? Recuperado de MDPI: https://www.mdpi.com/1660-4601/19/13/7627
International Renewable Energy Agency. (2021). Renewable Energy for Agri-food Systems: Towards the Sustainable Development Goals. Recuperado de https://www.irena.org/publications/2021/Nov/Renewable-Energy-for-Agri-food-Systems
Is Climate Change Real? | Britannica. (n.d.). Recuperado de https://www.britannica.com/story/is-climate-change-real
MDPI. (n.d.). Circular Economy Innovation and Environmental Sustainability Impact on. Recuperado de https://www.mdpi.com/2071-1050/12/12/4831
MDPI. (n.d.). Effects of Circular Economy Policies on the Environment and. Recuperado de https://www.mdpi.com/2071-1050/12/14/5792
Nature. (2023). Genetic erosion reduces biomass temporal stability in wild. Recuperado de https://www.nature.com/articles/s41467-023-40104-4.pdf
Ramirez Lopez, L. J., & Grijalba Castro, A. I. (2021). Sustainability and Resilience in Smart City Planning: A Review. Sustainability, 13(1), 181. Recuperado de https://www.mdpi.com/2071-1050/13/1/181
Rationality and the exploitation of natural resources: a. (n.d.). Recuperado de https://link.springer.com/article/10.1007/s10668-024-04470-3
Urban Planning and Environment. Recuperado de https://www.routledge.com/Urban-Planning-and-Environment/book-series/UPE
SAREP (Sustainable Agriculture Research & Education Program). (n.d.). What is Sustainable Agriculture? Recuperado de https://sarep.ucdavis.edu/sustainable-ag
Scale Climate Action. (n.d.). What is Circular Economy: Importance and Benefits. Recuperado de https://scaleclimateaction.org/climate/circular-economy/circular-economy-importance-and-benefits/
Scientific Consensus - Climate Change: Vital Signs of the Planet. (n.d.). Recuperado de https://science.nasa.gov/climate-change/scientific-consensus/
Springer. (n.d.). Biodiversity Erosion: Causes and Consequences. Recuperado de https://link.springer.com/referenceworkentry/10.1007/978-3-319-71065-5_78-1
SpringerLink. (n.d.). Policies and community participation for integrated natural resource. Recuperado de https://link.springer.com/article/10.1007/s40847-021-00169-7
The circular economy in detail - Ellen MacArthur Foundation. (n.d.). Recuperado de https://ellenmacarthurfoundation.org/the-circular-economy-in-detail-deep-dive/
The World Economic Forum. (2023). Four innovative clean energy-generating solutions. Recuperado de https://www.weforum.org/agenda/2023/08/four-innovative-clean-energy-solutions/
The World Economic Forum. (2023). 5 smart renewable energy innovations. Recuperado de https://www.weforum.org/agenda/2023/09/renewable-energy-innovations-climate-emergency/
UCDavis (University of California, Davis). (n.d.). What is Sustainable Agriculture? Recuperado de https://sarep.ucdavis.edu/sustainable-ag
United Nations Environment Programme. (n.d.). Integrando o ambiente no planeamento e gestão urbana: princípios-chave. Recuperado de https://www.unep.org/resources/report/integrating-environment-urban-planning-and-management-key-principles-and
World Economic Forum. (2021). 4 charts show how tech is driving green energy trends. Recuperado de https://www.weforum.org/agenda/2021/05/technology-enabling-energy-transition/
World Economic Forum. (2023). Four innovative clean energy-generating solutions. Recuperado de https://www.weforum.org/agenda/2023/08/four-innovative-clean-energy-solutions/
World Economic Forum. (2023). 5 smart renewable energy innovations. Recuperado de https://www.weforum.org/agenda/2023/09/renewable-energy-innovations-climate-emergency/
Opmerkingen