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A Mudança e a Incessante Procura pela Evolução

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No singular universo das organizações, a inevitabilidade da mudança impõe-se como uma constante inabalável, quase axiomática. Na minha experiência relativa ao sector empresarial, constatei que as metamorfoses organizacionais, sejam elas resultantes de fusões, restruturações, implementações de novas estratégias ou crises, têm o poder para desencadear um sem-fim de sentimentos nos intervenientes, que oscilam entre a ansiedade e a resistência, passando pela incerteza e, em alguns casos, a sensação de impotência.

É paradoxal observar que, numa era em que a mudança é quase tão natural como o acto de respirar, somos ainda, muitas vezes, reticentes em aceitá-la. Somos criaturas de hábito, que tendem a gravitar em torno do que é familiar e previsível. Mas é justamente essa predisposição que, quando não devidamente gerida, se torna numa barreira à inovação e ao progresso. Porém, analisando a mudança de forma mais atenta, verifico que a mudança, com todos os seus desafios e imprevisibilidades, apresenta um campo fértil para o desenvolvimento de uma habilidade fundamental: o pensamento estratégico.

O pensamento estratégico não é apenas uma competência, mas uma arte de elevada sofisticação intelectual, que permite realizar uma análise em pormenor, ter uma visão prospectiva e tomar ações alinhadas com os objetivos e valores de longo prazo de uma organização.

Ao longo da minha carreira, testemunhei inúmeros profissionais transformarem situações de profunda turbulência organizacional em oportunidades para afinar o seu pensamento estratégico. Em momentos de crise, enquanto muitos cedem à tentação de reagir de forma precipitada e táctica, os estrategas procuram perspectivas de longo alcance, identificando padrões, antecipando tendências e, mais importante, alinhando as suas acções aos valores e às metas da organização. A capacidade de antecipação e adaptação à mudança é, sem dúvida, uma das facetas mais valiosas do pensamento estratégico. Vivemos numa época caracterizada pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, como tenho referido em reflexões anteriores – o que muitos académicos e profissionais descrevem usando o acrónimo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity, Ambiguity). Assim sendo, a capacidade para criar soluções inovadoras torna-se não só desejável, mas essencial para a sobrevivência e para a prosperidade das organizações. Um outro aspecto vital do pensamento estratégico reside na sua intrínseca relação com a comunicação. Um estratega não apenas visualiza o panorama na sua maior amplitude, é também capaz de comunicar essa visão de forma clara e persuasiva aos stakeholders. Então, uma liderança eficaz não se concretiza apenas pela habilidade de antever cenários ou tomar decisões acertadas, mas também pela capacidade de articular essas decisões, garantindo a compreensão, o alinhamento e o compromisso de todos os envolvidos.

Todavia, é pertinente questionar: como pode um profissional cultivar e aprimorar o seu pensamento estratégico estando envolvido na turbulência das mudanças organizacionais?

A resposta a esta questão requer uma combinação de formação contínua, experiência prática, reflexão e, acima de tudo, uma postura aberta à aprendizagem e ao feedback. O verdadeiro pensador estratégico não se contenta com respostas fáceis ou soluções no imediato; ele procura de forma incessante compreender as inter-relações e interdependências que definem o ecossistema organizacional. É, portanto evidente que, enquanto a mudança organizacional poderá inicialmente apresentar-se como um desafio assustador e carregada de stress, ela é, na verdade, uma poderosa alavanca para o desenvolvimento pessoal e profissional. Realizo que a resiliência e adaptabilidade das organizações não se encontram nas suas estruturas tangíveis, mas sim no tecido humano que as compõe. Cada colaborador, quando dotado desta tão importante competência, torna-se um agente de transformação, contribuindo não apenas para a sua própria evolução, mas também para a sustentabilidade e para a inovação da organização em que está envolvido. As organizações que mais prosperam são aquelas que promovem uma cultura de colaboração e co-criação, onde o pensamento estratégico é partilhado e amplificado através de diversas perspectivas. Aqui, as divisões departamentais são derrubadas e as barreiras hierárquicas desaparecem, dando lugar a um ambiente onde a interdisciplinaridade se torna a norma. O papel da liderança neste cenário específico, é inegavelmente crítico através da sua capacidade em criar um ambiente seguro, onde os colaboradores se sintam encorajados a expressar as suas opiniões e a explorar novas ideias. Ao darem liberdade aos colaboradores e confiar na sua capacidade de contribuir de forma significativa para o rumo da organização, é possível criar e manter uma cultura onde o pensamento estratégico permeie todos os estratos e funções. Para além disso, o contexto global em que as organizações se inserem atualmente exige uma profunda compreensão de todas as complexidades culturais, sociais e económicas que definem o mundo moderno.

O pensamento estratégico não pode ser confinado exclusivamente às paredes que sustentam a organização, deve ser orientado externamente, procurando compreender e antecipar as forças macroeconómicas, tecnológicas e sociais que estão constantemente a reformar e a redefinir o ambiente empresarial. Para isto, a formação contínua é naturalmente, um imperativo! Não basta apenas dominar as técnicas e ferramentas do pensamento estratégico, é necessário estarmos constantemente atualizados sobre as tendências emergentes, os avanços tecnológicos e as mudanças geopolíticas. Cursos, seminários, workshops e, acima de tudo, a troca de experiências com pares e especialistas de diversas áreas, constituem meios essenciais para manter o pensamento estratégico afiado e relevante.

Em conclusão , a mudança organizacional, com toda a sua incerteza, não deve ser vista como um obstáculo, mas como um catalisador para a evolução. É um convite para abraçarmos o desconhecido, para questionarmos, para aprender e crescer. E no centro deste processo de transformação encontra-se o pensamento estratégico, que não é apenas uma habilidade, mas uma mentalidade, uma forma de ver o mundo que, quando cultivada e bem aplicada, tem o potencial de não apenas navegar, mas também moldar o nosso futuro.

É essa capacidade de moldar o futuro que diferencia verdadeiramente os líderes visionários daqueles que simplesmente gerem o presente.

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