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A Dança do Stress

O stress é uma resposta biológica inerente ao ser humano.

É frequentemente associado a efeitos nocivos, mas, no entanto, é imprescindível ter noção de que a sua existência tem um propósito muito bem definido e que nos pode oferecer inúmeros benefícios de diversas formas.

O stress agudo, vivido em momentos pontuais de maior exigência, funciona como catalisador para o desempenho. Face a um desafio imediato, os níveis de cortisol – a hormona do stress – elevam-se, resultando num estado de alerta e de grande energia.

Esta resposta fisiológica prepara o nosso corpo para a ação, aumentando a destreza física, a concentração e a rapidez de raciocínio. Desta forma, o stress agudo, em situações de curta duração, otimiza a nossa performance e ajuda-nos a ultrapassar obstáculos de forma eficiente. Necessitamos realizar que como em qualquer outra esfera da vida, a moderação é fundamental. Quando o stress se torna crónico, as suas vantagens rapidamente desaparecem dando lugar a um enorme leque de consequências prejudiciais.

O stress crónico, fruto da exposição prolongada a situações de tensão, conduz à produção excessiva de cortisol, a qual pode resultar em esgotamento físico e mental. Como consequência, a memória e a capacidade cognitiva são afetadas, assim como é a empatia e a criatividade, estas últimas devido ao foco excessivo nos problemas que estão a causar o stress. O stress crónico diminui o nosso potencial, quer a nível pessoal, quer a nível profissional, é um facto! Em termos da saúde física, o stress crónico leva ao desenvolvimento de problemas como doenças cardiovasculares, diabetes ou obesidade. A nível psicológico, conduz a distúrbios como a depressão, a ansiedade e a perturbação de stress pós-traumático. O stress agudo episódico ocorre quando enfrentamos situações de stress agudo de forma regular e frequente. Este tipo de stress partilha as vantagens e as desvantagens do stress agudo e crónico. A diferença fundamental reside no facto de que os episódios de stress são frequentes, mas não constantes. Ou seja, existe um alívio entre os episódios de stress, mas são suficientemente frequentes para terem um impacto significativo na vida das pessoas. As consequências do stress agudo episódico são portanto, uma mistura das consequências do stress agudo e crónico.

O stress, apesar de por vezes demonizado, pode realmente ser um aliado valioso quando gerido de forma adequada. A sua influência na nossa vida depende da duração e frequência das situações a que estamos sujeitos. Ao reconhecer os sinais de stress e aprender a controlar, podemos tirar proveito dos seus benefícios sem nos deixarmos afetar pelos pontos negativos.

Afinal, como em tudo na vida, o equilíbrio é a chave para uma vida saudável e realizada.

No entanto, este equilíbrio é algo a ser perseguido de forma contínua, pois os desafios que nos causam stress são inerentes à própria condição humana e estão em constante evolução. É aqui que a consciência desempenha um papel essencial. Precisamos ter consciência das nossas reações emocionais e físicas aos desafios que enfrentamos. Necessitamos estar atentos aos sinais de stress, sejam eles mentais (sentimentos de ansiedade ou irritabilidade), físicos (dores de cabeça ou problemas de sono), ou comportamentais (alterações no apetite ou no consumo de substâncias). Só assim podemos tomar as medidas adequadas para gerir o nosso stress de forma eficaz.

No que diz respeito à criatividade, há variadíssimos estudos que sugerem que o stress, quando bem gerido, pode na verdade estimular a criatividade.

Ao colocar-nos num estado de alerta e foco, o stress pode aumentar a nossa capacidade de pensar “fora da caixa” e de gerar ideias inovadoras.

No entanto, também aqui é importante o equilíbrio. Um nível excessivo de stress causa bloqueio mental, inibindo a nossa capacidade para pensar de forma livre e criativa.

Relativamente à empatia, o stress pode ter efeito duplo. Por um lado, ao coloca-nos em estado de alerta, aumenta a nossa capacidade para sintonizar os sentimentos e as necessidades dos outros. Por outro lado, um nível demasiado elevado de stress leva-nos à concentração excessiva nos nossos próprios problemas e à negligência dos outros. No âmbito da memória, o stress também desempenha um papel ambíguo. Um nível moderado de stress pode na verdade melhorar o desempenho da memória, pois a liberação de adrenalina aumenta a nossa capacidade de memória. No entanto, o stress crónico, com a sua constante secreção de cortisol, pode ter o efeito oposto, prejudicando a nossa capacidade para formar e recuperar memórias. Portanto, mais uma vez, o equilíbrio é fundamental. Em relação ao desempenho, a presença de stress é uma faca de dois gumes, semelhante aos pontos anteriores. Por um lado, aumenta a nossa motivação e o foco, permitindo-nos realizar tarefas de forma eficaz. Por outro lado, o excesso de stress leva à fadiga, à procrastinação e ao bloqueio criativo, prejudicando a nossa produtividade. A chave, então, é encontrar o “ponto ideal” do stress, aquele que nos motiva sem nos sobrecarregar. Sobre a atenção, um nível adequado de stress aumenta a nossa concentração, deixa-nos mais atentos aos detalhes e mais capazes de focar nas tarefas que temos em mãos.

É, portanto, fundamental desenvolver estratégias eficazes de gestão do stress. Para isso, podemos recorrer a várias técnicas, desde o exercício físico, a meditação e até a técnicas de respiração, que ajudam aa redução dos níveis de cortisol no corpo. Desta forma, podemos aproveitar toda a energia e o foco que o stress nos proporciona, controlando e mantendo o mesmo em níveis que não nos prejudiquem.

A nossa perceção sobre uma determinada situação poderá também amplificar o stress que esta provoca. Aprender a reenquadrar os problemas, encarando-os como oportunidades de aprendizagem e crescimento, é uma forma muito eficaz para controlar o stress.

Por fim, mas não menos importante, é fundamental reconhecer que cada pessoa reage ao stress de forma diferente. O que é stressante para uma pessoa pode não ser para outra, e o que é benéfico para uma pessoa pode ser prejudicial para outra. É importante respeitar a nossa individualidade e a dos outros, e procurar sempre o equilíbrio certo para nós.

Talvez seja mais proveitoso não ver o stress como um inimigo a eliminar, mas como um desafio a ser enfrentado. Talvez a solução não esteja em evitar o stress a todo o custo, mas em aprender a lidar com ele de forma saudável e equilibrada. Talvez o segredo esteja, afinal, não na luta contra o stress, mas na dança com ele.

Essa dança com o stress implica uma gestão astuta, que não se limite a simplesmente evitar as situações que o geram, mas sim na aprendizagem sobre a convivência com ele. Porém, reconheço que, como indivíduo inserido numa realidade por vezes frenética, nem sempre é fácil encontrar esse equilíbrio. Seja nas minhas funções profissionais, na minha vida familiar ou nos momentos que dedico a mim próprio, o stress está invariavelmente presente. O segredo reside em compreender a sua natureza, em reconhecer os seus sinais e em aprender a conviver com ele de forma saudável.

Como em qualquer dança, é preciso prática, paciência, e é preciso, acima de tudo, uma profunda compreensão do parceiro. Com o tempo, podemos aprender a transformar o stress num parceiro valioso nesta dança que é a vida.

Com efeito, a minha experiência pessoal e profissional tem-me demonstrado que o equilíbrio e a flexibilidade são fundamentais nesta dança. Por vezes, sinto a necessidade de abrandar e dar um passo atrás para recuperar o fôlego e retomar a clareza mental. Noutros momentos, é necessário acelerar e enfrentar o stress de frente, utilizando-o como impulso para ultrapassar obstáculos.

O importante é estar atento e pronto para ajustar o ritmo conforme necessário.

Aprender a dançar com o stress é, em última análise, aprender a dançar com a vida.

E embora esta dança às vezes pareça ser difícil, é também a fonte do nosso crescimento, da nossa força e da nossa alegria. Pois, nesta dança da vida, cada passo, cada movimento, cada volta, nos leva um passo mais perto de nos tornarmos a melhor versão de nós mesmos.

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